sábado, 26 de novembro de 2016

CAUSANDO INVEJA AOS MOÇOILOS


            



 

        Eis, que, de repente, me deparo com a foto de uma escultura de Bernini, “O rapto de Prosérpina”, segundo me diz a legenda, na revista Veja, exposta na Vila Borghese, em Roma. Uma olhadela na enciclopédia me ensina que a heroína é filha de Júpiter e de Ceres, o primeiro, com se sabe, pai e mestre dos deuses, na Mitologia Latina, a segunda, deusa da Agricultura. O sem-vergonha, autor do rapto, é um tal de Plutão, que foi, como não podia deixar de ser, pelo seu péssimo comportamento, rei dos Infernos.

        Bem, mas o que eu queria dizer é que, descontados o exagerado gestual e a dramaticidade das expressões (sem os quais a obra de arte não passa de um mero retrato) da escultura, os modos do raptor sacana são tais que dariam inveja aos moçoilos da atualidade. O “cabra da peste” agarra a coitada da Prosérpina pelas coxas (isso a mão da frente) e pelos “fundos” (suponho, porque a foto não permite uma visão clara do conjunto) como se ela fosse um saco de batatas, e vai levando a moça, assim, nem ligando para os gestos (e, talvez, gritos) desesperados que ela faz, com sua figura frágil, diante do bruto.   

        Ora, direis, isso tudo não passa de uma lenda, e a escultura, ainda por cima, abusa da dramaticidade gestual para, enfim, tornar suas obras mais palatáveis diante do prezado público. Tudo bem, concordo, mas eu vos direi, no entanto, que as lendas expressam sentimentos desejáveis, ainda que não efetivos, de um povo, e que, mesmo o poeta, para cativar o leitor, precisa rimar seus dizeres, ainda que o dito seja a mais sincera expressão de seus pensamentos.                                




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...