Os vencedores, em qualquer modalidade de negócios ou
política, costumam criar lendas a respeito de si próprios, para explicar como
chegaram até ali. Se eles não criam essas lendas, seus seguidores o fazem, para
justificar seu alinhamento a uma conduta, a defesa do líder ou adesão a uma
causa. As lendas são mais eloquentes do que os fatos reais, estes, às vezes,
incapazes de explicar convenientemente o sucesso de seus personagens.
Numa biografia recente, José Dirceu foi apontado como o
líder da “batalha da Maria Antônia”, conflito que explodiu em 1968, entre os
alunos do Instituto Mackenzie, principalmente os membros do CCC (Comando de
Caça aos Comunistas) e os estudantes da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras, da USP. Essa liderança seria um fato determinante para seu posterior retrato
de rebelde contra a ditadura militar.
Na verdade, José Dirceu estava lá, não como líder, mas
como simpatizante da causa. O movimento estudantil da Maria Antônia surgiu pela
confluência de muitos grupos de esquerda, que já atuavam na Faculdade, e
entraram em conflito com o CCC, por razões que nem precisam de explicação. Havia
muitos líderes, cada um com seu grupo, mas a maioria dos briguentos era
autodirigida, em função de suas próprias convicções.
O único momento em que José Dirceu liderou um grupo de
estudantes (apenas um grupo, entre tantos que lá estavam) foi na exibição da
camisa de um estudante morto na “batalha” e uma posterior marcha, pela qual, eu
desconfio, ele caiu fora do movimento e foi para casa, antes que a Faculdade
fosse invadida pela polícia e pelo CCC.
Quanto a José Genoíno, nem sua juventude inexperiente justificaria
aquela tentativa de revolução no meio do mato, com a qual ele e seus amigos
pensavam em sublevar a caboclada amazonense. Foi o mesmo problema de Lamarca,
no Vale do Ribeira. Que eu saiba, até agora, os caipiras de todo o Brasil só se
interessaram por uma revolução: a distribuição maciça de bolsas-família-(compra
de votos), que ajudou o PT a se manter no poder.
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