O filósofo alemão,
Leibniz (Gottfried Wilhelm, 1646 – 1716) tentou sintetizar uma explicação a respeito
do universo, partindo do conceito de mônadas, entidade metafísica que reuniria
em si a essência das coisas que compõem o mundo real. Uma mônada refletiria em
si todo o universo do qual seria o elemento formador. Isso me veio à mente quando
me propus sintetizar os problemas do Vale da Ribeira, para facilitar sua
compreensão. Parece-me que, focalizando não toda uma cidade, mas apenas um de
seus aspectos, é possível fazer um levantamento razoável dos problemas de toda
região.
A visão da capa do
número 158, do jornal Tribuna de Iguape, de Roberto Fortes, me sugeriu algo bem
adequado para essa tentativa. Na sua página de rosto, o periódico traz uma bela
fotografia, tirada de dentro da Basílica, que focaliza o jardim, logo à frente,
a Rua das Neves, segundo se diz o marco inicial da cidade e, mais ao fundo, um
trecho do Morro, onde se exibe uma estátua do Cristo Redentor. Essa visão, à
parte seu significado estético, apresenta um panorama histórico-sociológico
sobre o qual vale a pena refletir.
Começando pela
Basílica, embora a cidade seja hoje, com seus quase trinta mil habitantes, tão
ou mais próspera do que a vilazinha de, talvez 3 ou 4 mil habitantes do tempo
da construção desse prédio religioso, não teria condições reais de levar avante
uma obra desse porte. Observe-se que falamos em “condições reais”, não
condições econômicas. Queremos significar com isso que é possível fazer muitas
coisas, quando há “disposição” para isso, mesmo com poucos recursos, ao passo
que nenhum recurso é suficiente para levar a cabo qualquer coisa, desde que não
haja vontade real de fazê-lo.
Mas não estamos
falando da construção de prédios religiosos, já que os temos em quantidade
suficiente, mas da feitura de quaisquer obras de importância para os cidadãos,
como estádios esportivos, parques, locais para apresentações públicas, como
teatro, etc. Está claro que essa impotência dos cidadãos para cuidar de sua
própria cidade não é um produto de um desleixo coletivo, surgido do nada. Essa
impotência, surgiu na esteira da praga do populismo e se tornou deletério para
o país todo, mas seus efeitos são muito mais notados em pequenos núcleos
populacionais, menos politizados, menos escolarizados e menos diversificado
culturalmente.
Se não foi
produtiva em criações de interesse, a administração pública de Iguape (e temos
certeza de que isso se repete por quase todo o Vale do Ribeira) foi fecunda em
intervenções naquilo “que já estava feito”. Assim, na mesma fotografia do
jornal, vemos uma bela vista de nosso jardim público. Quem tem mais de sessenta
anos deve ter perdido a conta de quantas vezes se alterou o design, a flora, os
bancos, o calçamento, etc. de nosso jardim. O que trouxe de “progresso” para a
cidade, essa constante intervenção nesse bem público?
Para terminar, e
também para nos aprofundar na visão da foto, bem como na análise de nossos
problemas, ao longe, no morro, vê-se a estátua de Cristo, que reflete a mania
provinciana de imitar iniciativas de outras cidades. A estátua de Cristo, do
morro, fez aumentar a fé dos crentes ou converteu alguém ao Catolicismo? Pelo
que sabemos, não aconteceu nada disso: o que notamos, em nossa cidade foi o
aumento dos religiosos pentecostais, que não têm nenhum apego a imagens de
santos! Mas isso já é uma outra história!
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