terça-feira, 18 de março de 2014

O DRAMA DO VALE DO RIBEIRA - IX

       

          O filósofo alemão, Leibniz (Gottfried Wilhelm, 1646 – 1716) tentou sintetizar uma explicação a respeito do universo, partindo do conceito de mônadas, entidade metafísica que reuniria em si a essência das coisas que compõem o mundo real. Uma mônada refletiria em si todo o universo do qual seria o elemento formador. Isso me veio à mente quando me propus sintetizar os problemas do Vale da Ribeira, para facilitar sua compreensão. Parece-me que, focalizando não toda uma cidade, mas apenas um de seus aspectos, é possível fazer um levantamento razoável dos problemas de toda região.

          A visão da capa do número 158, do jornal Tribuna de Iguape, de Roberto Fortes, me sugeriu algo bem adequado para essa tentativa. Na sua página de rosto, o periódico traz uma bela fotografia, tirada de dentro da Basílica, que focaliza o jardim, logo à frente, a Rua das Neves, segundo se diz o marco inicial da cidade e, mais ao fundo, um trecho do Morro, onde se exibe uma estátua do Cristo Redentor. Essa visão, à parte seu significado estético, apresenta um panorama histórico-sociológico sobre o qual vale a pena refletir.

          Começando pela Basílica, embora a cidade seja hoje, com seus quase trinta mil habitantes, tão ou mais próspera do que a vilazinha de, talvez 3 ou 4 mil habitantes do tempo da construção desse prédio religioso, não teria condições reais de levar avante uma obra desse porte. Observe-se que falamos em “condições reais”, não condições econômicas. Queremos significar com isso que é possível fazer muitas coisas, quando há “disposição” para isso, mesmo com poucos recursos, ao passo que nenhum recurso é suficiente para levar a cabo qualquer coisa, desde que não haja vontade real de fazê-lo.

          Mas não estamos falando da construção de prédios religiosos, já que os temos em quantidade suficiente, mas da feitura de quaisquer obras de importância para os cidadãos, como estádios esportivos, parques, locais para apresentações públicas, como teatro, etc. Está claro que essa impotência dos cidadãos para cuidar de sua própria cidade não é um produto de um desleixo coletivo, surgido do nada. Essa impotência, surgiu na esteira da praga do populismo e se tornou deletério para o país todo, mas seus efeitos são muito mais notados em pequenos núcleos populacionais, menos politizados, menos escolarizados e menos diversificado culturalmente.

          Se não foi produtiva em criações de interesse, a administração pública de Iguape (e temos certeza de que isso se repete por quase todo o Vale do Ribeira) foi fecunda em intervenções naquilo “que já estava feito”. Assim, na mesma fotografia do jornal, vemos uma bela vista de nosso jardim público. Quem tem mais de sessenta anos deve ter perdido a conta de quantas vezes se alterou o design, a flora, os bancos, o calçamento, etc. de nosso jardim. O que trouxe de “progresso” para a cidade, essa constante intervenção nesse bem público?

           Para terminar, e também para nos aprofundar na visão da foto, bem como na análise de nossos problemas, ao longe, no morro, vê-se a estátua de Cristo, que reflete a mania provinciana de imitar iniciativas de outras cidades. A estátua de Cristo, do morro, fez aumentar a fé dos crentes ou converteu alguém ao Catolicismo? Pelo que sabemos, não aconteceu nada disso: o que notamos, em nossa cidade foi o aumento dos religiosos pentecostais, que não têm nenhum apego a imagens de santos! Mas isso já é uma outra história!    

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