O DRAMA DO VALE DO RIBEIRA VII
O enfoque alternado
entre os fatos presentes e os episódios históricos de uma comunidade amplia
nossa compreensão sobre os significados dos modos com que ela se apresenta. Para
evitar a subjetividade de uma visão pessoal, entretanto, devemos recorrer a uma
pesquisa estatística, confiando que os números dirão melhor que o descritivo
aquilo que procuramos. Os periódicos regionais podem nos auxiliar nessa tarefa,
seja nos dando conta da movimentação política local, seja chamando a atenção
dos leitores para as anomalias de comportamento, nas páginas policiais.
Estatísticas policiais
não podem ser invocadas para justificar dificuldades econômicas, mas podem ser
indicativos de disfunções sociais complexas, difíceis de resolver. Por sua vez,
é muito comum que essas disfunções sociais estejam relacionadas, de algum modo,
a dificuldades econômicas. Não há experiências comprobatórias conhecidas, mas
qualquer pessoa bem informada acredita que é mais seguro caminhar altas horas
da noite numa rua de Berna, na Suíça, ou Copenhagen, na Dinamarca, do que numa
rua do Rio de Janeiro ou de São Paulo. Naquelas duas cidades europeias é bem
provável que o passante seja abordado por um guarda, que vai lhe perguntar se está
perdido ou procurando algum endereço, ao passo que nas cidades brasileiras, nessas
horas incertas, é grande a probabilidade que ele seja simplesmente assaltado. É
evidente, nesses casos, que a diferença entre essas duas hipotéticas
ocorrências não seja um problema econômico, mas o contexto social diferenciado,
do que há evidências conhecidas, mas poucas explicações geralmente aceitáveis.
Voltando ao
problema do crime em cidades do Vale do Ribeira, a Gazeta Caiçara, jornal local
de Iguape e Ilha Comprida, edição 6 a 19 de fevereiro de 2014, assinala na
seção SEGURANÇA: “Cresce o número de roubos em Iguape e Ilha Comprida”, no
comparativo entre 2012 e 2013. “De acordo com as estatísticas (Secretaria de
Segurança do Estado de São Paulo), foram registrados 46 casos em Iguape e 64 na
Ilha Comprida (em 2013) contra 39 e 47 no ano anterior. Um aumento de 17,9% e
36,1%, respectivamente”. O mesmo jornal amplia o noticiário, mostrando que houve,
a partir de 2009, uma média de 574 furtos por ano, e na Ilha Comprida, 15
homicídios, entre 2009 e 2013.
Está claro que
um tema desses não pode ser discutido na ausência de outras informações, como
desemprego, educação, imigração e emigração, desigualdades sociais, etc. Num
recente fórum econômico, em Davos, foi lembrado, segundo nota no jornal Folha
de São Paulo, que “A desigualdade está entre os principais fatores de risco que
preocupam a elite mundial...” Todos entendemos que “ser pobre” não significa
ser delinquente, nem a pobreza é motivação justificável para o crime, mas as
dificuldades econômicas são um bom caldo de cultura para os comportamentos antissociais.
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