segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A MÁ FAMA VEM DE LONGE


            A má fama do funcionário público não é coisa de nossos dias. O desprezo (ou a inveja?) com que se fala do burocrata vem de longe, principalmente pelo fato de que, desde um passado longínquo, para todos os casos, e ainda hoje, para uns poucos casos, o emprego público não é um local de “trabalho”, mas uma posição de “privilégio”. Antigamente só os nobres, grandes ou pequenos, conseguiam uma “boca” no convescote do poder. Ser funcionário público significava ser da nobreza, ou ligado à nobreza, por alguma razão. Significava, também, que o titular de um cargo público gozava de privilégios como boa remuneração, poder e, ainda por cima, vida tranquila, em casa e no trabalho.
          A frase seguinte dá uma ideia dessa postura geral, contra o funcionário público: “Vejam como os homens se empurram e se acotovelam para entrar em empregos públicos, em carreiras e funções nas quais não há nada a fazer”. Isso está escrito num livro de 1924, de Gina Lombroso, filha do famoso antropólogo, médico e criminalista, Cesare Lombroso (1836-1909), aquele que considerava o criminoso um doente mental, e não um culpado. Não se pode dizer que essa visão de “homens que se empurram e se acotovelam” seja “antiga”. Não é difícil encontrar, ainda hoje, políticos e altos burocratas rodeados de “homens se acotovelando” ao seu redor, os agora mencionados “puxa-sacos”, que até mereceram composições musicais populares, as quais já não falam mais no singular, mas no plural, o “cordão de puxa-sacos”.

           Do que resulta isso? Em primeiro lugar, considerando-se nosso tempo, de inadequada generalização: a pecha passa a servir para “todos” os funcionários, quando deveria restringir-se a alguns privilegiados, aqueles que entraram pela “porta dos fundos”, os amigos dos poderosos que, por terem dificuldade no mercado do trabalho, onde o que vale é a competência e não o parentesco. Nunca vi uma estatística honesta a respeito, mas acredito (por experiência pessoal) que a maioria dos funcionários públicos foi admitida em seus cargos a partir de concursos e não protecionismo, ou convidados para eles pela sua competência, e não por suas amizades, embora estas possam ter facilitado a escolha. Adquirir má fama é a coisa mais fácil que existe, para alguém que atende o público, num guichê: basta contrariar um “bocudo”, que deseja “quebrar um galho”, resolvendo um assunto pessoal pelo caminho mais fácil. 

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