O
LIVRO DE LIQUINHO
Ler História é bom, ler histórias ou
estórias (as narrativas pessoais ou grupais) ainda é mais agradável, ensina
mais, aprofunda nosso conhecimento sobre a vida. A História oficial, aquela que
vai constar dos manuais escolares diz respeito ao exterior dos homens e das
sociedades. As histórias pessoais aprofundam nosso conhecimento da vida
interior, aquela que pouco se expressa na mídia e nos discursos oficiais.
“Minha Vida” o livro de memórias de
Liquinho (Luiz Moraes Machado) é um conjunto de despretensiosas crônicas sobre
os fatos mais relevantes (pelo menos na sua opinião) de sua vida. É escrito na
linguagem coloquial, como se ele estivesse na presença de um paciente ouvinte.
Não foi uma escrita planejada, o cumprimento de uma obrigação assumida, uma espécie
de “diário de bordo”, organizada pela conjuntura de um ofício. “Tudo começou
como uma brincadeira, uma espécie de desafio.” Assim revela, no Prefácio do
livro, seu filho Luiz Augusto. Mas isso é dizer pouco.
A meu ver, o livro é uma explosão da memória. Quem já passou há muito
dos “oitenta”, e não levou a vida nem na “moleza” da casa paterna, nem na
proteção de santos milagrosos, isto é, enfrentou o mundo “com a cara e a coragem”
deve sentir essa comichão no cérebro, aquele monte de imagens em movimento, que
se batem, se esfregam, se compõem, se descompõem, crescem a um ponto que o
espaço da consciência não as contém mais. Então é preciso desabafar, pôr prá
fora essa enormidade de lembranças para que outras pessoas possam vivê-las,
convivê-las conosco, como se fossem uma espécie de frutos ou viandas, que
desejamos compartilhar, num ágape coletivo. E não falo em ágape por acaso; essa
palavra acompanhou o início da História do Cristianismo, quando os convertidos
se reuniam numa refeição coletiva, para compartilhar o alimento, o conhecimento,
a fé e as lembranças pessoais.

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