sexta-feira, 2 de agosto de 2013



O LIVRO DE LIQUINHO

            Ler História é bom, ler histórias ou estórias (as narrativas pessoais ou grupais) ainda é mais agradável, ensina mais, aprofunda nosso conhecimento sobre a vida. A História oficial, aquela que vai constar dos manuais escolares diz respeito ao exterior dos homens e das sociedades. As histórias pessoais aprofundam nosso conhecimento da vida interior, aquela que pouco se expressa na mídia e nos discursos oficiais.
            “Minha Vida” o livro de memórias de Liquinho (Luiz Moraes Machado) é um conjunto de despretensiosas crônicas sobre os fatos mais relevantes (pelo menos na sua opinião) de sua vida. É escrito na linguagem coloquial, como se ele estivesse na presença de um paciente ouvinte. Não foi uma escrita planejada, o cumprimento de uma obrigação assumida, uma espécie de “diário de bordo”, organizada pela conjuntura de um ofício. “Tudo começou como uma brincadeira, uma espécie de desafio.” Assim revela, no Prefácio do livro, seu filho Luiz Augusto. Mas isso é dizer pouco.

          A meu ver, o livro é uma explosão da memória. Quem já passou há muito dos “oitenta”, e não levou a vida nem na “moleza” da casa paterna, nem na proteção de santos milagrosos, isto é, enfrentou o mundo “com a cara e a coragem” deve sentir essa comichão no cérebro, aquele monte de imagens em movimento, que se batem, se esfregam, se compõem, se descompõem, crescem a um ponto que o espaço da consciência não as contém mais. Então é preciso desabafar, pôr prá fora essa enormidade de lembranças para que outras pessoas possam vivê-las, convivê-las conosco, como se fossem uma espécie de frutos ou viandas, que desejamos compartilhar, num ágape coletivo. E não falo em ágape por acaso; essa palavra acompanhou o início da História do Cristianismo, quando os convertidos se reuniam numa refeição coletiva, para compartilhar o alimento, o conhecimento, a fé e as lembranças pessoais. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...