segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O CLAMOR DAS RUAS


Um lúcido artigo de Mário Sabino, (Veja, 14/08/2013) põe os pingos nos iii, nesta história de movimentos populares de protesto. Já havia chamado nossa atenção o repúdio dos protestadores às bandeiras partidárias que tentaram se aproveitar da “onda” para se promoverem. Como se tivessem acordado de seu sono, nas almofadas do poder, os políticos acharam que estavam “abafando”, ao tentar caminhar com o povo que protestava. Então foi só aí, nesse momento de repúdio popular, que descobriram que eram eles próprios o motivo do protesto.  

Em seu artigo, Sabino zomba dos jornalistas internacionais, que repetem, por preguiça ou miopia, as bravatas dos nossos governantes, sobre o grande progresso alcançado pelo país, nos últimos anos, por força, naturalmente, do grande empuxo promovido pelo “estadista que veio de baixo” e que ainda comanda, por telepatia, a presidente de plantão. “Eles não queriam ver e nós custamos a crer. A perda de contato com a realidade paralisou as consciências no Brasil”, diz o articulista. “Chegamos a esse ponto através da substituição da propaganda da política pela propaganda política”.

E prossegue: “As manifestações puseram óculos nos jornalistas internacionais. Enxerga-se, agora, que o nosso crescimento não passa de transtorno dismórfico coletivo. Que o tamanho absoluto do PIB é produto de uma ficção cambial. Que a escalada da “nova classe média” acontece de dez em dez prestações. Que nosso nível educacional só seria piada se fôssemos capazes de entendê-la. Que os miseráveis ascenderam socialmente – mas à condição de pobres alimentados por programas de esmola com dinheiro público. Que nossas cidades são de uma esqualidez vergonhosa. Que a frase do historiador latino Tácito nós cai à perfeição: em uma República muito corrupta, numerosas são as leis.”


Mário Sabino aprofunda sua análise, descendo às ruas dos protestos: “A juventude brasileira não sabe o que é política, e outra vez a culpa é dos políticos. Eles traspuseram todas as fronteiras da decência. Agora, diante da exposição das nossas fragilidades, não conseguem simular dedicação a interesses que ultrapassem o comprimento das hélices dos seus helicópteros. Desconhecem que, até nos regimes absolutos, um governante tem de evitar o ódio do povo – e o melhor modo de fazê-lo é abster-se de apropriar-se da propriedade alheia. Surpreendidos pelas ondas de choque juvenis correm para aprovar leis demagógicas, ignorando que não há legislação capaz de frear a corrupção se ela não é precedida pelos bons costumes”. 

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