O que é uma vidraça quebrada, em
termos de prejuízo para os cofres públicos, comparada com a despesa que um
deputado federal (ou senador) dá num dia de trabalho, considerando-se seu
salário, ajuda de custo, residência, oficiais de gabinete, viagens? Muito
pouco, quase nada. Agora acrescente-se a isso, não para todos os políticos do
Congresso Nacional, mas para grande parte dele, as maracutaias, as verbas
destinadas a obras superfaturadas, os empreguinhos públicos para parentes e
amigos. Isso ocorre não com um grupo de malucos ou maus elementos infiltrados
numa passeata, mas com autoridades que estão nos representando, na Capital da
República.
O quebra-quebra não chega a desmoralizar uma
passeata de cidadãos bem intencionados, mas enfeia o espetáculo e, para alguns,
chega à estragar o espetáculo de cidadania. Mas é preciso considerar que não se
pode fazer uma triagem em quem vai aderir a um ato público. Comparando-se a
proporção de políticos sacanas, na totalidade das autoridades, com os arruaceiros
que se infiltram nas passeatas, o número relativo daqueles supera de longe o número
relativo destes últimos. Então, aqueles que ficam horrorizados diante de um
quebra-quebra são cegos de cidadania, porque já deviam estar horrorizados
diante da desfaçatez de políticos desonestos, como se vê, pelo noticiário
comum.
Qual o prejuízo que dá uma Presidenta
que inventa dezenas de ministérios para poder controlar o Congresso, dando a
cada partido uma fatia do poder, exclusivamente para conquistar aliados? Nenhum
país decente precisa mais que uma dúzia ou mais de ministros. E alguém já se
debruçou sobre os números do famigerado PAC, para fazer um cálculo das obras
superfaturadas, muitas das quais nunca chegam ao fim, como a transposição do
Rio São Francisco? Já viram algum estádio completar sua construção sem ajustes
de preços? Se aquele que ganhou a concorrência para a construção dessas obras,
o conseguiu porque deu o menor preço, como tem a coragem de aumentá-lo, antes
de chegar ao término da obra?
As depredações nas passeatas são uma
lástima. Mas, nos dias comuns, nesses horários noturnos, quando tudo está em
paz, ladrões vicejam, arrombando portas, fazendo assaltos coletivos em
restaurantes, roubando carros nas ruas. Durante as passeatas, por amplos
espaços públicos foi possível manter o sossego do cidadão, se não considerarmos
o ruído. Uma estatística comparativa é impossível, mas é provável que o prejuízo
público com as depredações talvez seja menor do que aquele proporcionado pelos “amigos
do alheio”, quando as ruas e praças estão quase desertas.
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