O clamor da classe média
brasileira invade o espaço público dos grandes centros urbanos, ritmado pela
explosão das bombas de efeito moral e pelos tiros de balas de borracha. A
parcela mais lúcida da população despertou, enfim, de seu pesadelo kafkiano, no
qual perambulava como bando de baratas ofuscadas pela luz dos holofotes da
demagogia. Estamos sofrendo com o ponto fraco da democracia: como todos os
votos têm igual validade, os votos de dois ignorantes anulam o voto de um
eleitor consciente. Nesse ponto, não há o que fazer, é sofrer as consequências
e jogar com a possibilidade de que a “escola para todos” funcione e um dia tenhamos
um eleitorado mais esclarecido, porque a democracia é único sistema político
que tem a possibilidade de se autorregular.
O discurso da presidente Dilma pareceu a
muitos uma conversa de autista, tal a ingenuidade de seu pensamento. No fundo, entretanto,
isso não é mais que a esperteza de se fazer de desentendida pelo movimento de
protesto e, assim, sair-se bem no confronto. Talvez isso funcione entre abobados
ou entre seus próprios seguidores, mas dificilmente funcionará com as pessoas mais
lúcidas que estão à frente dos protestos. O resumo da ópera é que não poderá
haver diálogo enquanto ladrões, mal-intencionados, politiqueiros desonestos
estejam mandando no Congresso Nacional. O problema da presidente é que ela se
submete aos políticos da Câmara e do Senado, não só criando ministérios inúteis
para seus partidos, como evitando confrontá-los, em nome do povo.
Quanto ao
gesto de Alckmin e Haddad, satisfazendo a primeira reivindicação dos protestos,
isso vai “sair nas urinas”. Todos sabem que as empresas são financiadoras das
campanhas políticas e, por isso, precisam estar sempre com superávit de caixa,
senão terão que restringir seus favores, resultando na perda de seus privilégios.
O aumento de vinte centavos no preço das passagens foi uma espécie de espoleta,
de valor menor quando ao impacto do tiro. O governador e o prefeito pensaram em
apagar o fogo no nascedouro, mas eles sabem que o buraco é mais embaixo.
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