quinta-feira, 20 de junho de 2013

O QUE FICOU DE FORA DAS PASSEATAS


Nada mais saudável para um país do que a conscientização do povo. Nesses momentos dramáticos em que uma multidão sai às ruas para protestar, o que fica patente é que alguma coisa pesou nas consciências e moveu os indivíduos em busca de solução. Como não é possível que o povo inteiro consiga uma audiência com as autoridades, a rua se torna a grande tribuna para as reivindicações. Essa a razão pela empolgação do noticiário dos últimos dias.
Entretanto, é preciso destacar os senões, não da parte dos movimentos sociais, mas da parte da ilusória atenção dos homens públicos, pela indignação dos cidadãos. “Político é político”, todo mundo sabe, então, para quem não se deixa levar pelas aparências, vale a pena fazer um levantamento da situação em que vivemos, para que a providência governamental não nos iluda pela sua simplicidade e não nos dê a falsa impressão de que os problemas foram resolvidos.  
        O Governador, na maior cara de pau, declarou que a diminuição do preço das passagens (reivindicação que foi a espoleta do movimento social) ia obrigar a uma revisão nas despesas públicas, querendo com isso significar que os recursos do Estado estão no seu limite. A cara de pau não é por alguma mentira: é possível mesmo que os recursos estejam no limite; a mentira é que os culpados por isso não é o povo, mas o próprio governo. A administração pública, para usar uma imagem forte, “joga dinheiro pela janela” e depois vem dizer que “falta verba”.
        Não estou falando aleatoriamente. Durante algum tempo, fui funcionário público concursado. Comigo, entraram mais nove pessoas, pelo mesmo processo. Após algum tempo de trabalho, deu para perceber que 2, e não dez, pessoas seriam suficientes para cumprir a agenda que nos foi exigida. E mais: grande parte do trabalho em andamento, pelas centenas de funcionários que já havia naquela repartição, era absolutamente inútil. Um pequeno comitê de técnicos, com a ajuda de alguns escriturários poderia levar a cabo o trabalho, sem a necessidade daquela multidão, que dava despesas por si, pelo prédio, pelos cafezinhos, papéis, máquinas, etc.
        A Secretarias da Cultura, da Educação, etc. (destaco essas duas porque as conheço bem) do Estado, são um enxame de milhares de funcionários, a maior parte sem ter o que fazer ou, se fazem, muitos desses trabalhos podiam ser perfeitamente dispensados, pois não se destinam a nada objetivo, quando examinados de perto. Mais uma vez, falo com conhecimento de causa: tive uma empresa que foi contratada pela Secretaria da Cultura para um trabalho que poderia ter sido feito por qualquer um de seus funcionários, mesmo pelos contínuos.
        O Tribunal de Justiça de São Paulo (estou falando no passado porque não sei a situação presente, mas duvido que tenha mudado) estava cheio de filhos e filhas de desembargadores e seus amigos, que iam lá apenas para ganhar no mole e se distraírem. Entravam num concurso de ingresso tão ridículo, no qual só acreditei porque me foi confiado por um amigo que lá trabalhava. Isso sem contar que, como me confidenciou uma amiga, também funcionária, que os processos andavam mais rápidos quando eram azeitados por gorjetas.

        Enfim, o Governador, em que pese sua honestidade pessoal, não fez, como os outros também não o fizeram, nenhuma força para mudar a estrutura caríssima e a corrupção dentro das repartições burocráticas, onde se esvai o dinheiro dos impostos. Aí ele vem a público, candidamente, ponderar que vai ter que sacrificar algumas verbas em função da baixa no preço das tarifas de transporte. Se não jogassem dinheiro fora na administração dos serviços públicos, o povo poderia, até, ter condução de graça. A revolta já é justa, por si, mas seria muito mais justa se os revoltosos soubessem ou, mesmo sabendo, visassem com ela os verdadeiros problemas da administração pública, do município, do estado e do país. Quanto a este, só para lembrar um caso que se tornou público, será que a Presidente não sabia que a amante do ex-Presidente dava uma despesa danada para o País? 

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