sexta-feira, 19 de julho de 2013

O SILÊNCIO DOS FALSOS INOCENTES

  
A franqueza não ajuda ninguém a vencer na vida. Melhor é ficar quieto, “se mancar”, “deixar correr o barco”. Enfim, esperar que a verdade apareça por acaso, que a maioria a apoie e, então, entrar na passeata do protesto. Essa é a estratégia do “brasileiro médio”, conceito que se entende tanto melhor quanto menos se explica. Quem, num momento qualquer, por falta de assunto ou por não aguentar ficar calado, resolve falar, pode ficar “marcado”, por boquirroto (passando a ser evitado pelos “prudentes”) ou, na melhor das hipóteses, se a tese receber apoio geral, começar a representar o papel de herói aquele que se põe (por conta própria ou alheia) à frente das causas e um dia sai vencedor ou se estrepa.
Olho uma foto da reunião para discutir o “caso” da cobrança de pedágio, entre Iguape e a Ilha Comprida. Não é possível deixar de fazer uma ligação entre essa reunião e os acontecimentos no Espírito Santo, quando uma revolta popular tenta pôr fim à roubalheira do pedágio entre duas cidades. O paralelo entre aquele pedágio-roubo de Vitória e o pedágio-roubo de Iguape-Ilha Comprida é visível. Por que a reunião? Será que os dirigentes das duas cidades estão inquietos e pensam em acabar com essa cobrança sem sentido, antes que o povo se revolte e ponha fogo nas cabines?
Na foto-capa do jornal, um sujeito, ao lado do prefeito da Ilha, fala, o prefeito da Ilha ouve em silêncio. O conteúdo do discurso do orador do momento, que transparece na sua expressão, é ambíguo: ele está justificando alguma coisa, talvez a permanência do pedágio (veremos as justificativas mais comuns mais à frente), ou sua extinção. Neste último caso, não é por gosto, naturalmente, mas por medo da repetição do quebra-quebra do Espírito Santo. Enquanto ele fala, o prefeito de Iguape troca figurinhas com seu vizinho de mesa, um vereador iguapense.
Isso é o que podemos ver na foto do frontispício do jornal. No texto da notícia, páginas depois, uma foto mais abrangente capta outras dimensões e personagens da reunião. Um rapaz gordo, de jeans, está inclinado na direção do prefeito de Iguape, mas parece conversar com o vereador a seu lado. Outras pessoas são vistas, naquela pose de espera, quando se ouve e se cogita, mas não se tenta entrar na conversa. É questão de aguardar. Mas quem é aquele moço atrás de todos, solitário e aparentemente desinteressado na conversa? Sim, é ele, o mais brilhante vereador das duas cidades, o homem que não conseguiu ser prefeito de Iguape, em duas tentativas, mas foi o vereador mais bem votado nas últimas eleições.

        Como a “Ana Maria” da bela musiquinha de Juca Chaves, o vereador está pensativo. O que sonha “Ana Maria?” digo, o vereador? “É uma vergonha, mas que posso fazer?” “Extinto o pedágio, perdem-se empregos: está certo?” “Faltam fontes de renda, na cidade, como acabar com alguma coisa que traz dinheiro de fora?” “Mas, afinal, são apenas alguns trocados, quem vem à praia tem dinheiro, não vai lhe fazer falta!” “Vamos ver o que os dois prefeitos resolvem; conforme o caso, sou contra, ou a favor!” “Razão, seu nome é mistério; Justiça, seu nome é circunstância!” 

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