sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O VEREADOR QUE LEU BORGES


Em Iguape, existe um vereador que leu Borges. Duvidam? Entendo sua dúvida, mas é a pura verdade. A dúvida é justa, Borges não é pra qualquer um, não é uma leitura comum, assim como Chalita ou aquele autor, de que não lembro o nome, que escreveu sobre “não sei quantos tons de cinza!” Pelo contrário, Borges pode ser comparado a Goethe ou Shakespeare. É quase certeza que o tal vereador também conhece estes últimos autores, citados à guisa de exemplos. O que não é pouco, aliás, é muito, eles estão nos cânones de todos os modernos críticos de literatura.

Mas como é que veio parar em Iguape um político que leu Borges? Que correntes de vento ou maré obrigaram esse prodígio a pousar nesta cidade, perdida nos confins do litoral paulista? Só Deus sabe! A verdade é que ele chegou com um sonho, (I have a dream!), como aquele pastor que pretendia alcançar a redenção dos negros americanos. O nosso vereador, leitor de Borges, talvez quisesse a redenção dos cidadãos iguapenses, não sei bem em que sentido, mas devia ser com boas intenções.

“Borges é um desses casos de escritor gigante ante quem qualquer aproximação resulta insuficiente!”, diz um de seus biógrafos e divulgadores, Marcos R. Barnatán (que o tal vereador, não duvidem, também deve conhecer). Só para que o leitor, que, como muita gente boa, inclusive vereadores do Vale do Ribeira, talvez não conheça Borges, tenha uma ideia do que estamos falando, este prodigioso argentino, com 8 (oito) anos de idade, escreveu, em inglês, um ensaio sobre mitologia grega. Imaginem o que ele escreveu em sua longa vida.

Daí que, conhecer Borges não é uma coisa qualquer: constitui-se numa qualidade rara, mais que desejada, por quem se quer culto, “estar por dentro” das coisas da vida, mormente das coisas sul-americanas. Mas o que interessa isso para a vereança numa cidadezinha perdida no litoral paulistano? É mesmo, agora me conscientizo de que estou devaneando. O que Borges tem a ver conosco? A pergunta parece pertinente, mas não é. E vou dizer por quê: quem leu Borges dá a pista de que já leu muitas outras coisas. Borges é a “joia da coroa”, aquele “plus ultra”, para uma cultura que se completa, que se consolida. Talvez esse vereador iguapense tenha “chegado lá”, e nós não o acompanhamos, não sabemos o quanto vale uma pessoa que lê, que busca a cultura, que vai até onde é possível alcançar, no aperfeiçoamento de si próprio.   


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...