terça-feira, 20 de maio de 2014

SEMANA DO BANZÉ, EM BREJAÚVA


 

SEGUNDA-FEIRA – Zé Farofeiro contou pra Joãzinho Pé-de-boi que Tateto andava rodeando a mulher de Chico Cheira-cheira. Joãozinho Pé-de-boi misturou Chico Cheira-cheira com Chico Pindaíba, mudou a direção do boato  e disse a Laurentina Boca Larga, sua mulher, que Pindaíba estava namorando Lurdinha, filha de Cheira-cheira. Laurentina Boca Larga, que não negava o apelido, passou de imediato a Irene da Vila que Chico Cheira-cheira tinha brigado com Pindaíba porque este estava dando em cima de sua filha, Lurdinha, também conhecida como Lurdinha Busca-pé. O caso deu uma revoada na praça de Brejaúva e, quando voltou para os ouvidos de Farofeiro, depois de um estágio no bar de Furrié, pelas bocas de Zé Caturrinha e Dito Parati, e um repique no salão de sinuca de Sebastião Titica, por conta de Tamborim e Serafim Tisão, Lurdinha Busca-pé já estava fazendo as malas para ir à Capital, onde faria o aborto de um filho, responsabilidade não mais de Pindaíba, mas de Galo-cego.

TERÇA-FEIRA – Lurdinha Busca-pé soube da “viagem” na quitanda de Sakai e foi interpelar Sebastião Titica sobre o pai da calúnia. Sebastião Titica, pra não prejudicar Tamborim e Serafim Tisão, os “comentaristas”, do caso, botou a culpa em Zé Chachangue, que o dedurou ao promotor por vender cigarros a menores. Nessas alturas, Galo-cego tinha sumido da praça, mas Chachangue foi abordado por Lurdinha no mercado, conversando  com Minguinho Coruja. Este, quando pressentiu o rapapé, saltou fora e ficou espiando de longe o aperto do amigo. Chachangue saiu do mercado com espuma na boca e foi direto ao bar de Sebastião Titica. No final do dia, Brejaúva foi informada do resultado da encrenca: um galo na cabeça de Chachangue, por conta de uma bola de bilhar, e a orelha amassada de Sebastião Titica, produto de um certeiro golpe de taco.

QUARTA-FEIRA – Cheira-cheira tomou conhecimento das estripulias da filha e começou os “entendimentos” com ela no tapa e no berro, pela vergonha de sujar o nome da família. Lurdinha Busca-pé, o rosto vermelho e a boca espumando, replicou que quem suja o nome da família é o pai fraco que deixa falarem mal da filha. Cheira-cheira avançou para a revanche, mas foi contido por um golpe de frigideira no cangote, por conta de sua mulher, Zulmira Pé de Pato. O ribombo da briga foi ouvido pelos vizinhos Enxadão e sua mulher, Laurentina Trovão, que se aprontaram para passar a novidade adiante, logo que Cheira-cheira se escafedeu para a rua, a fim de refrescar o miolo. 

QUINTA-FEIRA – Por conta da confusão de nomes, apelidos e ocorrências, a encrenca pegou feio prá todo lado, juntando mais gente no boato. O falatório correu pelas ruas, becos e bares,  misturou pessoas e fatos, implicou de santinhas a suspeitosas, de homens de respeito a sujeitos ordinários. A certa altura, já não se sabia direito quem fizera o que com quem ou tinha falado o que, de quem, então a sujeira pululou. Deu briga no bar de sinuca de Sebastião Titica, rapapés no mercado, ameaças de morte na feira. Mulheres discutiam na rua, velhinhas se benziam nas esquinas, crianças corriam de todo lado. O forrobodó só deu uma parada entre o almoço e o café da tarde. Depois da soneca, estourou um pega-prá-capar, no meio da rua, e uma briga feia no bar de Sebastião Titica. O sangue fervia, os boatos se espalhavam do mercado à praça, dos bares às  padarias. Pipocaram queixas na delegacia e houve intervenções policiais.  

SEXTA-FEIRA - Manhã - o delegado mandou o guarda Zé Xereta intimar todos os envolvidos nas pendengas e ele saiu, lépido. O guarda Roleibol (também conhecido como Chico Preto) confidenciou ao delegado que Zé Xereta era partidário do Prefeito e, por isso, só convocaria para depor seus inimigos. O delegado branqueou, vermelhou, roxeou e voltou a branquear. Então encarregou Roleibol de chamar a outra metade do "litígio". Roleibol arregalou os olhos, aturdido, e o delegado gritou: "Vai logo, seu burro!" Então ele entendeu e sumiu.

SEXTA-FEIRA – Tarde – Vinte pessoas se espremiam e se desentendiam aos gritos, na sala da Delegacia. De repente o delegado, que já tinha branqueado, vermelhado, roxeado e voltado a branquear, duas vezes, berrou: CALEM A BOCA, TODOS!!! Zé Xereta e Roleibol se perfilaram e bateram continência, e os dois presos na Delegacia saltaram do catre. Por dez segundos só se ouviu o zumbido de uma motuca voejando sobre as cabeças.

Enfim, começaram os depoimentos. Zé Bolão, o escrivão, acomodou seus cem quilos na cadeira e pôs-se atento. O delegado resolveu ir "por partes", ouvindo e repetindo ao escrivão, o que diziam os "querelantes". Cada vez que usava essa palavra, o delegado, bacharel de fim-de-semana, mas com curso de Lingua Portuguesa por correspondência, avisava Zé Bolão: "Com qu!", e Zé Bolão lascava um "qu" em cima do “k” que já tinha escrito.

Às seis da tarde, Zé Xereta, exausto, encostava-se na porta, Roleibol sentado numa cadeira balançava a cabeça, tonto, os dois presos roncavam de barriga prá cima, e o delegado, que já tinha tirado o paletó e afrouxado a gravata, entregou os pontos: mandou todo mundo embora. Zé Bolão juntou a papelada e jogou tudo num cesto, nos fundos da Delegacia.  

SÁBADO – Os Evangélicos e Pentecostais foram em silêncio para suas Igrejas, ouviram sermões azedos de seus Ministros e Pastores, se arrependeram e leram os quatro Evangelhos, de ponta a ponta.

DOMINGO – Os Católicos foram em silêncio para a sua Igreja, ouviram em silêncio o sermão azedo do Padre, se arrependeram e passaram duas horas rezando o terço. 

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