Em 6 de junho de 2005, Jefferson
concedeu uma entrevista-bomba ao jornal Folha de S. Paulo. O Brasil não era
mais o mesmo. A manchete, na primeira página, para não deixar dúvidas: “O PT
dava mesada de R$ 30 mil a parlamentares, diz Jefferson”. Nascia o escândalo do
mensalão.
Leal ao presidente que procurou
protegê-lo, Jefferson tentou deixar Lula fora da crise. Mas logo implicou o
superministro José Dirceu (PT-SP). A entrevista reproduziu a reação de Dirceu,
assim que ouviu Jefferson falar sobre os repasses. A tarefa de fazer a
distribuição do dinheiro era de responsabilidade do tesoureiro do PT, Delúbio
Soares. Palavras de Dirceu:
– Eu falei para não fazer.
Ora, se o todo-poderoso ministro da Casa
Civil, braço direito de Lula, disse para Delúbio Soares não fazer, fica
implícito que a prática já fora pensada, discutida e era de conhecimento do
chamado “núcleo duro” do governo. Destaca-se que Delúbio tinha relação
histórica com Lula. Jefferson continuou o seu relato à Folha, envolvendo outros
importantes auxiliares do presidente.
Se os mencionados não conheciam os
fatos, ficaram com a obrigação de
encaminhar as
denúncias a Lula, assim que foram informados. Afinal, o presidente não poderia
permanecer alheio a um esquema de entrega sistemática de dinheiro a parlamentares.
Isso, claro, se já não soubesse muito bem o que acontecia. Jefferson levou
informações sobre o mensalão ao ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes. Da
mesma forma que Dirceu, deveria contar tudo o que lhe foi relatado ao
presidente. Assim, providências enérgicas impediriam o prosseguimento da prática
de suborno. Independentemente das convicções do ministro.
Conforme Jefferson, Ciro disse que não
acreditava na história da transferência de dinheiro de caixa 2 para a base
aliada. Informado por ministros leais, Lula não poderia fugir do seu dever constitucional
de determinar a imediata abertura de investigação, com a finalidade de punir os
eventuais culpados.
Depois foi a vez de Miro Teixeira, o
ministro das Comunicações. Os deputados José Múcio (PTB-PE) e João Lyra
(PTB-AL) testemunharam a conversa na qual Jefferson pediu para Miro contar tudo
a Lula. Tem mais. Jefferson também discutiu o problema com o deputado Aldo
Rebelo (PC do B-SP), o então líder do governo Lula na Câmara, e garante que
expôs tudo ao ministro Antônio Palocci (PT-SP), outro integrante do “núcleo
duro” do governo. O recado estava dado.
Aparentemente, só Miro tomou a coisa a
sério. A prova é a entrevista concedida por ele em 24 de setembro de 2004 ao
Jornal do Brasil, na qual alardeou que havia pagamentos a parlamentares ligados
à base de apoio do governo. Não houve consequências. Miro, no entanto, já havia
narrado o caso ao presidente. Aí é que a coisa pega. Foi em 25 de fevereiro de
2004. Na época, o deputado Miro se transferira ao PT e assumira a liderança de
Lula na Câmara. O episódio aconteceu logo depois do escândalo que culminou com
a saída de Waldomiro Diniz do Ministério da Casa Civil, no primeiro grande caso
de corrupção da era Lula.
Miro era assediado por deputados que
temiam pelo fim da “mesada” fornecida pelo governo, uma hipótese aventada com a
saída de Waldomiro. Afinal, o assessor de Dirceu cuidava justamente da relação
da administração federal com o Congresso. Miro foi duro. Disse ao presidente
que deixaria a liderança do governo. Não aceitava os pagamentos. Com ar de
surpresa, Lula garantiu desconhecer o assunto. Mas disse que iria discuti-lo,
sem falta, com Dirceu. Nada. Pouco mais de um mês depois, Miro voltou ao
Palácio do Planalto e pediu para sair da liderança. Substituiu-o o deputado
Professor Luizinho (PT-SP), aparentemente um dos expoentes do mensalão.
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