terça-feira, 30 de abril de 2013

RESERVA DO PARAÍSO - LEMBRANÇAS




              Na passagem dos anos 30 para 40, a Rússia já estava experimentando uma nova Constituição, que iria consolidar o regime comunista, sob Stalin, depois de um morticínio e uma sangrenta perseguição aos dissidentes. Na Alemanha, Hitler, já senhor da Alemanha, invadia a França, depois de haver invadido a Polônia, enquanto outros ditadores tomavam conta da Europa ocidental, com Mussolini na Itália, Franco na Espanha e Salazar em Portugal. No Brasil, Getúlio Vargas fingia que era o pai dos pobres, enquanto ajudava os ricos a ganharem dinheiro. Enfim, para não ficar atrás, o Oceano Pacífico começava a ferver, com a expansão sangrenta do Império Japonês.
              Enquanto isso, o Vale do Ribeira, depois de fazer os descendentes de japoneses saírem do litoral, para evitar uma hipotética comunicação deles com os submarinos alemães, permanecia tranquilo. Em Iguape, o Clube 25 de Janeiro reunia a elite da cidade, o Clube Liberdade fazia bailes com a classe média e o Primavera, embora teoricamente estivesse reservado ao proletariado, misturava todos os segmentos sociais, considerando, ainda, que entre seus fundadores, havia famílias de boa projeção social, na cidade. Em todos os clubes havia brigas, com variação de formato: no Clube 25 de Janeiro, preponderava o bate-boca; no Liberdade, sopapos organizados, nos fundos do prédio; no Primavera, xingações, pegas, porradas e sobe-desce na escadaria, com, pelo menos um caso, de salto pela janela – o clube ficava num sobrado. 
              Os bailes só ocorriam nos fins de semana. Nos dias de semana, a pequena e a grande burguesia passeavam ao redor do jardim da cidade, no Largo da Matriz, que nunca mais, nos anos posteriores, esteve tão bem arranjado. Seu Gamba, o guardião das flores, manejava um galho de árvore, sem folhas, com o qual castigava os moleques que pisavam nos canteiros. As moças e moços se cruzavam no passeio, com longos olhares e secretos sorrisos. Os pais de família jogavam bilhar ou conversavam em alguns bares, as mães colocavam cadeiras na porta de casa e reuniam grupos de prosa, que se esticava até as vinte e duas da noite, hora de recolher para todos, do jardim, dos bares e das calçadas, porque a luz apagava às onze da noite.   
               Nos fins de semana, a partir de certa época, começou a haver sessões de cinema. Parece que, em tempos idos, já existiam cinemas, em Iguape, que fecharam, por alguma razão. Também havia teatro, com peças nas quais trabalhavam pessoas do mesmo clã, porque dramas ou comédias, as peças, geralmente de teor sentimental, sempre continham alguma cena de leves carícias, e isso criava constrangimento para os artistas amadores, e suas famílias. Às vezes, em vez de peças, havia declamação de poesias. Ficaram na memória alguns trechos poéticos: “Coitadinha da galinha, vai morrer, hoje, talvez!” e “Num galho seco vi pousar um passarinho / E aos seus filhinhos ouvi cantar uma canção/”.. ... e por aí vai.
            Enfim, o mundo se estraçalhava, lá fora, mas cá, vivíamos num pedaço do Paraíso!               

UMA HISTORINHA NOS MOLDES DO RIBEIRA



               O TROMPAÇO DO TATETO-MÃE

Neste mundão sem portera, tem coisa de arripiá o cristão. Magine mecê que ia eu lá andando na tigüera, aburrido, desacorçoado pelo sumiço das caça, quano um tatetinho manero saiu do nada e se enrolava na guanxuma, debaxo dos meu zóio, e intão arresorvi pegá ele vivo memo, pra despois matá e pelá em casa. Me encolhi detrás do mato e fui devagar, negaceando, pra me achegá em riba do bicho mas, quano quis dá o bote, levei um trompaço tão forte na apá, que quaje me virei num cambopé, antes de me dá conta do que havera acontecido.
 Atabaloado de cagaço, vi o baita tateto-mãe que tinha me dado um baque, e agora a danhisca abracava o tatetinho pelo cangote e fincava o pé, chispando pro mato. No relance, achei que dava tempo de garrá o bichinho e, quem sabe, caçá tamém a mãe que me afrontó, mas um criqué me amoleceu o coração e me siguró, e eu fiquei ali, abestado, de croca, vendo aquele acocamento de mãe e fio carecido, ora seja por caridade, aquela querença boa, garrei a lembrá os dengo que a falicida tinha coa gente, veio até ágoa nas vista, sinti por dentro aquele maciamento dos nervo e dexei os bichinho se escafederem, que eu sô homem de fé e sintimento, não sô arrenegado, um desgracento, não ia procedê a essa marvadeza, memo coa larica que tava. É essa a estória.
 

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Artigo – Professor Ulysses Telles Guariba Netto



                                    Mazelas da democracia.                                                                       (Abril de 2013)
Democratas convictos submetem as instituições à crítica implacável. A construção da democracia é um processo histórico sem final feliz. As dificuldades e as esperanças se renovam todos os dias, como tudo na vida. A democracia é resultado da árdua construção da sociedade. Boto fé na vida democrática, apesar dos ruinosos defeitos de nossas instituições, pois democratas não vivem apenas de convicções, lutam para construir o futuro sem travas às esperanças...
Curtamos algumas mazelas de nossas instituições políticas...
Imensa chaga advém da forma como se distribuem as entidades em nossa República. Desde 1891, aspiramos o equilíbrio entre os poderes da União, dos Estados e dos Municípios. A ditadura de Vargas de 1930 e o golpe militar de 1964 centralizaram o poder. O país respirou aromas mais suaves no florescente intervalo de vida democrática entre a Constituição de 1946 e o Golpe de 1964. Derrubada a Ditadura, a Constituição de 1988 trouxe novamente a esperança de liberdade agora somada à consolidação dos direitos sociais. Sonho democrático inspirado no estado de bem estar social da social da democracia européia. Todo brasileiro virou social democrata. Sempre bom imitar boas experiências históricas.
Boa pontaria dos constituintes, mas o tiro saiu enviesado, ocorreu a hipertrofia do poder da União. Concentração imensa de poder decorrente agora da gestão dos tributos e contribuições. O governo central concentrou a riqueza em suas mãos. Açambarca hoje cerca 57% da tributação, os Estados não chegam a ganhar 25% do bolo tributário e os municípios sofrem com 18% da arrecadação. Hipertrofia do poder central com absoluta conivência e descaso do legislativo. Nem mesmo a partilha do Fundo de Participação dos Estados consegue ser votado pelo Congresso. A União exibe exuberante sua força, enquanto Estados e Municípios emagrecem a olhos vistos.
Resultado: República Imperial, como lembra bem Gaudêncio Torquato, com a designação fictícia de República Federativa do Brasil. Conseqüência decorrente: desequilíbrio entre os poderes da República: Executivo, Legislativo e Judiciário passam a viver tensões permanentes.
Nosso sistema representativo perpetua o aleijão institucional. A legislação da ditadura inventou o limite de 70 deputados por Estado e pespegou sobre o país o mínimo de 8 deputados por unidades da federação. Distorção brutal da representação na Câmara dos Deputados. Virou fumaça a legenda de um eleitor, um voto. Em São Paulo, 70 deputados representam 40 milhões de eleitores. Em Roraima, 8 deputados representam menos de 300 mil eleitores. Os constituintes de 1988 não tiveram peito de corrigir tamanha aberração. A manutenção do suplente de Senador acrescenta uma profusão de parlamentares sem representação por todo o Congresso Nacional.
Soma-se a tudo isto a realidade estapafúrdia do nosso sistema partidário que assombra o mundo. Liberou geral! Regras frouxas na organização partidária! Proliferam 30 partidos políticos. Novos são inventados por todos os cantos do país: modelo “casa da mãe Joana”. O Supremo meteu sua colher no guisado em 2006, quando vetou a cláusula de barreira votada pelo Congresso, que punha limites eleitorais à organização de partidos. Corresponsável pela fragmentação partidária.
Partidos políticos, hoje, ambicionam os recursos do fundo partidário e vendem, em época das eleições, o direito aos horários chamados gratuitos que adquirem nos meios de comunicação. Bom lembrar que os recursos do Fundo Partidário, R$294 milhões em 2013, e o custo do horário eleitoral, R$ 600 milhões na última eleição, são pagos pelo nosso rico dinheirinho.
Com as coligações partidárias nas eleições proporcionais, o legislativo acaba atulhado de representantes de pequenos partidos. A fragmentação partidária explode como fogos de artifício no firmamento da vida democrática. Uma afronta escarrada à vida política nacional.
Mas, mais grave de tudo, destas mazelas decorrem as dificuldades de formação de maiorias nos legislativos. Inventaram governos de coalizão. Embuste democrático. Membros do poder legislativo extrapolam suas competências legislativas. Procuram valorizar seus votos de maneira espúria: morder o erário público, exigir privilégios e cargos onde pendurar seus cabos eleitorais. Mau exemplo no plano federal. As mesmas práticas vão sendo reproduzidas nos estados e nos municípios esvaziados de seus poderes federativos.
E ninguém mais fala mais em reformas políticas sérias e inovadoras...
                                                           Ulysses Telles Guariba Netto. Professor aposentado da USP        
                                                          


VALE DO RIBEIRA INTERNACIONAL




Não é para nos gabar, mas pelo que podemos perceber, pelas estatísticas que apontam os locais de acesso à leitura de nosso Blog, o Vale do Ribeira está se tornando assunto de interesse internacional. Fazendo as contas, percebemos que o número de acessos ao Blog, no Brasil, é menor do que aquele formado por leitores de outros países. Assim, só como exemplo, no prazo de uma semana, o total de acessos brasileiros somou 137, enquanto que os dos demais países, reunidos, somaram 170.
        Os acessos de leitores em alguns países, como os Estados Unidos (92, numa semana), Portugal ou Reino Unido, surpreende um pouco, mas não tanto como na Rússia (48, numa semana) Alemanha (19), França, Polônia, Dinamarca, Turquia, Malásia e Peru. Isso parece indicar que nossos patrícios, espalhados pelo mundo, não se esqueceram de suas origens, mas continuam plugados nas coisas do Brasil, por extensão, e do Vale, em particular.  


EM DEFESA DO VALE DO RIBEIRA




Recebemos do leitor Vitor Dias o E-mail abaixo, que transcrevemos, para que sirva de estímulo aos leitores que desejam colaborar com este Blog, na divulgação das notícias e na defesa dos interesses da população do Vale do Ribeira. O agradecimento se refere à transcrição, neste Blog, de uma mensagem de protesto, enviada pelo autor às autoridades brasileiras, sobre o conteúdo de declarações de um político do PSB, comparando o Vale do Ribeira a outras regiões brasileiras, que estão em situação de desespero, por conta do descaso das autoridades do país.

E-mail:

Boa tarde,

Muito obrigado por divulgar meu manifesto no seu blog.

É bom saber que posso contar com um importante aliado na luta em defesa do nosso Vale do Ribeira.

Para seu conhecimento, informo que mesma mensagem também foi enviada para um grande número de prefeituras do Vale, para os deputados Samuel Moreira e Márcio França, para o Governo do Estado de São Paulo e para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia de S. Paulo.

Caso eu receba alguma resposta - o que eu não acredito, encaminho encaminharei ao senhor.

Agradeço mais uma vez e tenha um bom domingo.


Vitor Dias
(13) 9785-8447
(13) 3842-4037

sábado, 27 de abril de 2013

COMUNICADO: EM DEFESA DO VALE DO RIBEIRA




Recebemos, do leitor Vitor Dias, o comunicado abaixo, com o qual concordamos plenamente. Por isso o transcrevemos aqui, para conhecimento dos demais leitores deste Blog.


           Abaixo reproduzo a mensagem que enviei ao PSB, cujo teor é, por si só, auto-explicativo:

            Assisti com indignação ao programa do PSB, exibido na quinta-feira, 25/04/2013, em rede nacional de televisão. Inserir o Vale do Ribeira no mesmo balaio de miséria no qual estão o Vale do Jequitinhonha e o semiárido nordestino é má fé ou falta de informação sobre a real situação da região. Sou morador do Vale do Ribeira e posso afirmar, com absoluta certeza, que nunca vi uma única carcaça de gado, morto de fome e de sede, jogada nas nossas estradas. Vejo sim, com muita frequência, como parte da nossa verdejante paisagem, um gado robusto, muito bem tratado, fartando-se nas imensas pastagens.
             Nunca vi um caminhão-pipa com uma fila de miseráveis disputando um mero balde de água suja, pois aqui não há nada que se assemelhe à cruel seca que historicamente assola o nordeste do Brasil. Aqui ninguém morre de fome, pois, mesmo que não tivéssemos condições de adquirir alimentos - o que não é o caso - comeríamos as bananas que abundam na região. Somos o maior produtor dessa fruta no Brasil. Ao circular pelas nossas estradas, jamais me deparei com crianças e adolescentes no acostamento mendigando ou se prostituindo, cenário tristemente corriqueiro no nordeste, como tem sido amplamente mostrado na mídia.
             Tenho a impressão que comparar o Vale do Ribeira à miséria nordestina virou o passatempo favorito dos políticos daquela região. Não faz muito tempo, o senador José Sarney, em entrevista à revista “Isto É”, comparou os índices de desenvolvimento do estado do Maranhão aos do Vale do Ribeira. Posteriormente, reconheceu o equívoco. É fato que o Vale do Ribeira é uma região pobre e atrasada em relação ao resto do estado de São Paulo, mas, por favor, não confundam pobreza com miséria.

Espero, no mínimo, uma retratação pública. O Vale do Ribeira agradece.

Saudações,
Vitor Dias
Ilha Comprida - SP
(13) 9785-8447
  
PS: o vídeo do programa pode ser assistido no TouTube no link: http://youtu.be/mjd3oCxXz3g

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Judoca da Escolinha Municipal, em Registro, disputará o título de Campeã Paulista 2013





             Tendo conquistado a medalha de bronze no último domingo, 21 de abril, durante o Campeonato Estadual do Interior das Classes Sub-11 e Sub-13 da Divisão Aspirantes e Sub-15, Sub-18 e Sub-21 da Divisão Especial, a judoca Rauany Cibely Eiró das Neves conquistou uma vaga para participar do Campeonato Paulista, o maior torneio do Estado. A atleta de 12 anos é aluna da Escolinha Municipal de Judô Projeto Mauro Sakai, parceria entre a Prefeitura Municipal de Registro e a Associação Registrense de Judô. Rauany lutará pelo título da categoria Sub-13.
            O evento foi realizado pela Federação Paulista de Judô no Ginásio Mário Covas, através da 14ª Delegacia Regional do Vale do Ribeira, 7ª Delegacia Regional Sudoeste, 11ª Delegacia Litoral Santista e 16ª Delegacia Região Sul, com apoio organizacional da ARJU e colaboração da Prefeitura de Registro.
           “Participar do Campeonato Paulista é uma vitória para um atleta.  Rauany será um exemplo e uma grande inspiração para todos os alunos do Projeto Mauro Sakai”, disse a presidente da ARJU, Neusa Nicio Kobori. O Campeonato Paulista Sub-11 e Sub-13 será realizado no mês de junho e a cidade de Registro é forte candidata para sediar o evento. Os campeões de cada categoria classificam-se para o Campeonato Brasileiro e os quatro finalistas classificam-se para o Meeting. Além de Rauany, os judocas da ARJU Cauã Gomes Godk, Giulia Kaori Kondo, Lucas Florência e Lucas Shinji Kino participarão da Divisão Aspirantes e Daniele Kaori Kurosawa, Ana Clara Inácio, Fabricio de Lima e Victor Hugo Souza lutarão na Divisão Especial.
            A Escolinha Municipal de Judô Projeto Mauro Sakai atende gratuitamente cerca de 60 crianças e jovens de 7 a 17 anos, matriculados na rede pública de ensino. Os treinos são ministrados pelo sensei Rodrigo Sakai no CRAS do Bloco B, nos períodos da manhã e da tarde.
            Os organizadores do Campeonato Estadual do Interior manifestaram agradecimentos aos colaboradores e patrocinadores: Consaúde, Equipe do SAMU, Secretaria Municipal de Esportes, Secretaria Municipal de Saúde, Equipe do 192, Hotel Valle Sul, Lito Palace Hotel, Supermercado Preço Bom, Supermercado Vila Nova, Bananas Nacional de Campinas e Dr. Rodrigo Aquiles. A judoca Rauany teve sua Federação patrocinada pelo Restaurante Arroz e Feijão & Cia.

Ilha Comprida abre inscrições para o Brasil Alfabetizado





         O Departamento Municipal de Educação da Ilha Comprida informa que estão abertas as inscrições para jovens, adultos e idosos se inscreverem nos núcleos de alfabetização do Programa Brasil Alfabetizado. As inscrições podem ser feitas no Departamento, com Sônia Rocha ou Evandro Benedetti. Para se inscrever, é necessário ter idade a partir de 16 anos e portar documentos pessoais.
         Segundo Sônia Rocha, as aulas serão iniciadas nesse mês em cinco núcleos de alfabetização: Núcleo de Promoção Social, Escola Meu Recanto, na Igreja Católica do balneário Araçá e dois núcleos no CRAS. Com três aulas por semana no período noturno, o curso vai até novembro.

Novos núcleos- A coordenadora Sônia Rocha afirma que moradores de outros balneários, interessados em formar núcleos para o programa de alfabetização, também podem se inscrever no Departamento de Educação. O Brasil Alfabetizado é uma parceria entre a Prefeitura e o Ministério da Educação. Mais informações com Sônia Rocha, pelos telefones (13) 3842 7021 – 3842 7018.

Prefeito de Registro cobra entrega de casas do Conjunto Registro D2



  
              Representantes da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) garantiram ao prefeito Gilson Fantin que até o final de maio serão entregues as 92 casas que ainda faltam do Conjunto Registro D2. Gilson se reuniu na manhã desta quarta-feira, 24/04, com o gerente regional da CDHU, Luiz Carlos Rachid, o coordenador geral João Luís Dias Martins, o superintendente de Obras Humberto Schmidt Oliveira e o gerente de Obras da Companhia, Marcello Cinquini.
               Ao todo, o conjunto conta com 286 moradias. Parte delas foi entregue no ano passado, sendo que 136 unidades são destinadas a moradores de áreas de risco. Diante da grande expectativa da população, o prefeito solicitou novamente informações à CDHU. “Além de garantir a entrega das casas até 30 de maio, a Companhia também se comprometeu a atender nosso pedido de melhorar o pavimento asfáltico do conjunto habitacional”, revela o prefeito.
               Gilson Fantin solicitou ainda a regularização das 314 casas do Registro D1, pois os moradores até agora não receberam o documento do imóvel. Os representantes da CDHU também aceitaram a proposta do prefeito de investir em um projeto destinado às famílias que vivem em áreas de risco no município. “São necessárias cerca de 300 casas para retirar todos os moradores que ainda sofrem com o perigo da enchente e tantas vezes já perderam tudo o que tinham com as cheias. A CDHU entende a necessidade de atender a esse público e já vamos começar a desenvolver o projeto juntos”, ressalta Gilson.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

CONVITE AO LEITOR, PARA O PRÓXIMO CARNAVAL DE IGUAPE



                                 É O BOI
O melhor momento do Carnaval, em Iguape, é o desfile do Boi. Carnaval é descontração, independência, abertura para o improviso e isso é o que se vê no desfile do Boi, a multidão alegre, desordenada, espontânea, descuidada de atitudes, explodindo sua emoção, transformando aquela improvisada escultura de madeira, arame e papel pintado no comandante da baderna sem violência, da liberdade sem excesso, da transgressão inocente.
        O desfile das escolas é muito bonito e o toque das baterias é perfeito, mas há algo de burocrático nessas demonstrações artísticas, uma ordem meio militar, que se reflete na preocupação do alinhamento de seus integrantes e na vigilância de seus organizadores. Mal comparando, o desfile comportado dos clubes está para a multidão convulsionada atrás do Boi, como as estampas cuidadosamente desenhadas dos quadros renascentistas estão para as figurações libertárias da pintura moderna. Naquela prepondera a disciplina, o cuidado, o respeito às regras, a racionalidade; nesta o que vale é a espontaneidade, a criatividade, o improviso, a emoção.
        Vendo o Boi desfilar, acompanhado por aquela multidão delirante, a gente descobre que nem os Dez Mandamentos, nem a Inquisição, nem as dezenas de bulas papais e o transcurso de dois milênios do monoteísmo foram capazes de extirpar do homem o gosto pagão pelo ídolo totêmico, essa profunda e quase genética ligação do homem com os bichos, uma espécie de antecipação intuitiva da descoberta darwinista, do nosso parentesco com todo o reino animal. O Boi de Iguape desbancou até o Rei Momo, o deus da sátira, importação européia, resquício da cultura helênica.         
Enfim, assim como a subida ao Corcovado justifica a visita ao Rio de Janeiro, uma chegada ao Mercado de “Ver o Peso” compensa a longa viagem até Belém do Pará, e o conjunto arquitetônico do Pelourinho faz esquecer o calor de Salvador da Bahia, vale a pena agüentar a espera, o cansaço e o barulho ensurdecedor da praça, até alta madrugada, para ver o desfile do Boi, que é quase sempre o último no cronograma da festa, mas é certamente o primeiro na preferência dos carnavalescos.  

CRÔNICA



                  EVOLUÇÃO

         Segundo os antropólogos, os primeiros jogos de amor da Humanidade, na Idade da Pedra, consistiam numa corrida desenfreada, num safanão maneiro e num sôfrego ataque. Por conta disso, os fracotes, os desajeitados, os horrorosos (supõe-se que as dondocas selvagens desandassem numa irresistível carreira quando os viam) perderam muitas oportunidades de procriar, o que, com o passar dos anos, ajudou na melhoria eugênica da espécie. Este último fato que tornou possível, na posteridade, o surgimento de belos e fortes espécimes humanos, como a periguete Marilyn Monroe, o metrossexual George Clouney, o façanhudo Schwarzeneger e o simpático Maguila.
        Por outro lado, já naquela longínqua era, uma das armas de que os cavalheiros lançavam mão, na conquista de seu lugar ao sol, ou à sombra das bananeiras, era a esperteza, daí que também uma das qualidades apuradas pela evolução, no correr dos milênios, foi a negaça, o vai-que-depois-eu-vou, enfim a manha, que resultou na atilada raça dos políticos de todos os tempos e países, não só do Brasil e de agora, como pensam alguns pessimistas patrícios. Também não devemos nos esquecer dos ponderados e sábios feiticeiros, ancestrais dos clérigos, filósofos e cientistas de nossos dias. Naturalmente aqueles sisudos cavalheiros não gastavam suas energias correndo atrás das moçoilas, com a boa intenção de perpetuar seus genes, mas atraíam-nas com histórias bonitas e conselhos batutas, para, enfim, no correr da conversa, assim como quem não quer nada, sugerir um romântico passeio pelos bosques.  
          Mas o que eu queria dizer, mesmo, com essa introdução antropológica das arábias, é que o gênero humano vai sempre em frente, como que querendo descobrir o que há por trás das montanhas aonde se põe o sol. Assim é que, no correr dos séculos, o homem foi inventando mil maneiras de conquistar as mulheres (e vice-versa, que elas não dormem no ponto) sem precisar se esfalfar numa corrida desesperada pelo matagal, cheio de cobras e lagartos. Muitos artifícios surgiram, desde então, difíceis até de numerar. Pois até dizem que os tambores africanos (são os mais famosos, mas tambores há por toda parte) foram o resultado evolucionista do hábito dos moçoilos escurinhos daquelas plagas de imitarem com eles suas batidas cardíacas, expressão de seu desejo em flor, com a finalidade de conquistar o direito a uma cheirada no cangote das cabrochas. Do tambor se passou à viola, desta ao piano e, enfim, quando os homens chegaram às orquestras, a mulherada já estava bem pertinho, ao alcance das mãos (modo de dizer), atraída pelos acordes das sinfonias de Mozart e companhia ilimitada.
           Mas, então, quando se pensava que a evolução da inventividade masculina (e feminina) na corrida atrás da cara metade tinha chegado ao seu ápice, eis que inventaram o computador, com suas variações de todos os tamanhos e formatos. À parte os conchavos diretos, no Skype, que põe os interlocutores cara-a-cara (literalmente), o que, até certo ponto liquida com o fingimento das palavras das ligações telefônicas, vencidas pelas expressões faciais e corporais, muito mais sinceras, o Facebook persegue os cidadãos e as cidadãs, onde quer que estejam, com uma rapidez que nossos pais, para não lembrar nossos avós, e muitos menos nossos ancestrais “enamorados mateiros” jamais imaginariam.
           Pois, agora, para desespero dos pais menos atualizados nos costumes e nas técnicas computacionais, e dos namorados inseguros e desconfiados, o Facebook inovou com um aplicativo, que vai tornar a “caçada” pelo parceiro (avulso ou alheio) uma moleza: o “Bang with Frieds”. Não vou chegar aos detalhes da coisa, primeiro porque, nesta era de facilidades, o leitor talvez já esteja careca de saber, ou, em caso contrário, porque posso ser acusado de instigador de maus costumes, por algum moralista extraviado neste mundo de licenciosidades ilimitadas. De qualquer maneira, para aqueles que lamentam o fim do romantismo “não-me-toques”, dos violões noturnos, dos bilhetinhos piegas e dos olhares enviesados, chegou a hora de “cair na real”, conformar-se com um mundo que não para de mudar e, assim, tomar um rumo definido na vida: partir para a gandaia ou internar-se num convento. 

     

quarta-feira, 24 de abril de 2013

A IMPRENSA ESCRITA NO VALE DO RIBEIRA DE IGUAPE



           Houve um tempo em que a palavra escrita se constituía numa espécie de mensagem privilegiada, a que todos anuíam e respeitavam, seja pela cultura e habilidade do redator, seja pela ignorância generalizada dos leitores. Atualmente, diante da presença massacrante da TV e, agora, da Internet, a palavra da imprensa escrita teve rebaixada sua importância, como criadora de convicções, instigadora de diálogos ou, mesmo, ponto de atrito entre posições contraditórias, nos meios intelectuais da cidade, do estado ou do país e, até, em raros incidentes, do mundo todo.
           Por conta da universalização dos costumes e das opiniões, o mesmo que foi dito acima, de modo geral, se aplica, mutatis mutandis, ao Vale do Ribeira, às nossas cidades. Assim mesmo, com essa pouca frequência e consequente pouca influência, a palavra escrita segue avante, resistindo ao avassalador poderio da imagem da TV e da instantaneidade da Internet. E, mais, a imprensa deixou o Olimpo dos grandes mestres da língua e hoje é feita (eu quase disse “perpetrada”) por pessoas do povo (modo de dizer: pessoas de modesta cultura), o que, longe de ser um mal, é um bem, porque os grandes nomes da palavra escrita, que dominavam a imprensa antiga, nem sempre sabiam o que ocorria nos arraiais populares e, por isso, se apegavam a temas e pontos de vista que refletiam mais sua vivência com os livros do que com o dia-a-dia das pessoas.
           Tenho em mãos o exemplar de um desses jornais semanais que, ultimamente, pululam em nossas bancas de periódicos. O título do jornal é esperançoso: “O PROGRESSO DO VALE”. (Que Deus os ouça!) As manchetes de frente anunciam notícias quentes: “Miracatu – Produtores rurais podem perder tudo”; e mais abaixo: “Iguape – Vereadores se desentendem”. No pé da página, miudezas da semana: “Empresário de Iguape se destaca no Vale do Ribeira / Júnior exige equiparação salarial no setor de saúde de Iguape / Vereadores de Miracatu falam dos planos para o futuro do município”, etc.
           Pretendo retomar esses assuntos, de vez em quando, mas no momento gostaria de pôr em destaque apenas alguns detalhes dessa escrita ligeira, porque acredito que ela seja a expressão do pensamento, das convicções e das percepções de muitos cidadãos desta nossa região. Não fora isso, esses periódicos não prosperariam, embora, diga-se a verdade, eles lutem com muita dificuldade para “vender” sua mensagem, porque (e aqui vai uma informação que vale para quase todo o Brasil, e não só para nós) os brasileiros gastam com muito mais gosto 40 reais para assistir a um jogo de futebol, ou 5 reais para comprar um sorvete, do que 30 reais por um livro, ou 2 reais para comprar um jornal.   
           Mas vamos ao jornal. Desta vez, para não me prolongar muito, vou me restringir à crítica da linguagem, como uma narcisística homenagem ao meu próprio passado de Revisor e Redator de um grande jornal da metrópole. Como aconselhava, se não me engano, o Coelho Maluco, de Alice no País das Maravilhas, “começo pelo começo”. Estou lendo um desses periódicos vendidos em Iguape. Na primeira página, já no Editorial, o editor, naturalmente, comentando certas atitudes de alguns cidadãos, dá grandes braçadas, na piscina da Psicologia: “Estas pessoas têm um comportamento de autoestima pelo ser humano e estão dispostas a ajudar qualquer um necessitado mental e fisicamente sem pensar no retorno financeiro”. E mais à frente: “Essas pessoas são motivadas por uma ação, um interesse altruísta de beneficiar o ser humano..” E, por aí vai. Daremos continuação ao tema!

terça-feira, 23 de abril de 2013

O “OUTRO LADO”


                                   
           Vivemos todos na América, mas quando a gente pesquisa um pouco, vê que há muitas “américas”, não só uma. Yoani Sanchez, a cubana que a cada escrito em seu Blog, desafia a ditadura de Fidel Castro, em Cuba, descobriu, sem querer que nem sempre eleições significam liberdade. No trecho abaixo, tirado de um dos seus escritos de viagem, posto em seu Blog, vemos por quê:

El avión había tocado tierra en Panamá y al otro lado de los cristales se veía un sol inclemente que caía sobre el pavimento. Recorrí los salones del aeropuerto, en busca de un baño y también de un lugar donde esperar hasta que partiera mi próximo vuelo. Algunos jóvenes que aguardaban en el salón principal me hicieron señas y comenzaron a gritar mi nombre. Eran venezolanos. Estaban allí, al igual que yo, en tránsito hacia otro destino. Así que conversamos en medio del gentío y de las maletas que iban y venían, mientras los altavoces anunciaban las salidas y los arribos. Me dijeron que leían mi blog y comprendían muy bien lo que estábamos viviendo en la Isla. En un momento les pedí tomarme una foto con ellos. Respondieron con caras largas y la súplica de que “por favor, no la subas a Facebook ni a Twitter porque nos metemos en problema en nuestro país”. Me quedé pasmada. De pronto los venezolanos me recordaron tremendamente a los cubanos: temerosos, hablando en un susurro, escondiendo todo aquello que pudiera comprometerlos frente al poder.

A AJJ – ASSOCIAÇÃO DOS JOVENS DA JURÉIA



           A AJJ (associação dos Jovens da Juréia) é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, criada no ano de 1993 e inscrita como pessoa jurídica em dia 26 de Abril de 1998, tendo como objetivos principais a geração de renda, resgate e manutenção da cultura caiçara e a permanência das comunidades da Juréia em suas terras.

              UMA HISTÓRIA DE RESISTÊNCIA DEMOCRÁTICA

           Em 1986 o governo do estado de São Paulo criou a E.E.J.I (Estação  Ecológica da Juréia Itatins), localizada no litoral-sul do estado, entre o município de Iguape e o de Peruíbe. A E.E.J.I foi criada sem nenhum tipo de estudo de impacto social, cultural ou ambiental, isto é, de modo autoritário, como era comum no governo da ditadura militar. Não se cogitou que, dentro dos limites da Juréia moravam mais de 400 famílias, divididas em algumas dezenas de pequenas comunidades, que já habitavam o local há mais de 350 anos. Grande parte da região, onde hoje é a Juréia, foi cedida pelo Império, para o uso da terra por essas comunidades, que viviam da agricultura, criação de pequenos animais e da pesca de subsistência.                                                                                                                                                    
           Com o tempo, essas comunidades desenvolveram uma cultura extremamente rica, que ainda hoje pode ser vista nas manifestações religiosas, na dança (fandango), no uso de plantas medicinais e no modo sustentável de utilização dos recursos naturais. Tudo isso foi completamente ignorado pelo governo do estado de São Paulo, que proibiu todas as atividades de subsistência dessas comunidades, obrigando-as saírem de suas casas para viver nas periferias das cidades do entorno da E.E.J.I. Guardas armados do Parque da SEMA (Secretaria do Meio Ambiente) entravam nas casas dos caiçaras, para ver se não tinham armas, e abriam suas panelas para ver se não estavam cozinhando alguma caça.
              A partir daí, muitas famílias abandonaram o local, as escolas foram fechadas e as comunidades restantes começaram a se organizar, entrando em conflito com a SEMA. Esta, por sua vez, contratou, para guardas do parque, pessoas que se destacavam como lideranças comunitárias, desarticulando assim todo o movimento de resistência. Algumas das famílias que saíram da Juréia foram para Barra do Ribeira, um bairro do município de Iguape. Foi lá que, em 1993, um grupo de jovens caiçaras, expulsos da Juréia, criou a AJJ (Associação dos Jovens da Juréia) com o intuito de lutar pelo direito de permanência das comunidades na Juréia, gerar renda por meio do artesanato, resgatar e manter viva a cultura caiçara.

O FANDANGO – Origens e Variantes


     
              (Transcrito do site MUSEU VIVO DO FANDANGO)

         O termo fandango tem uma história longa e controversa. Para alguns pesquisadores teria origem árabe. Para outros, suas origens viriam da Península Ibérica, quando Espanha e Portugal ainda não eram reinos de fronteiras definidas. Existe ainda uma vertente que classifica a origem do fandango na América Latina, de onde teria partido para a Espanha no início do século XVIII.
         Uma de suas definições mais antigas e de uso generalizado é a de fandango como um baile ruidoso. Encontramos referências a bailes e conjuntos de danças com esse nome em Portugal, Espanha e França. Em Portugal, há formas de danças e funções assim nomeadas no Arquipélago dos Açores, na região entre o Ribatejo e a Estremadura e, mais ao norte, na fronteira com a Espanha, onde se congrega às principais danças dos Países Bascos. Na região de Andaluzia, é tanto dança como gênero específico, possuindo fortes vínculos com o universo do flamenco. Nas Américas, o termo é usado, desde o período colonial, no México e na Colômbia, designando uma dança ou um conjunto de danças.
         No Brasil, teve suas origens e influências ibéricas miscigenadas com outras matrizes culturais, assumindo regionalmente, com o mesmo nome de fandango, aspectos e características completamente diferentes. Como resume Câmara Cascudo, o termo fandango designa, em terras brasileiras, o auto marítimo do ciclo natalino, encontrado em alguns estados nordestinos, e o baile sulista, encontrado no Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. No interior de São Paulo, na região de Sorocaba, há também uma variante de dança sapateada, herdada dos tropeiros, assemelhada à catira ou cateretê.

Fandango Caiçara

         O fandango encontrado no litoral paulista e no paranaense, independentemente de suas origens, não seria apenas fruto de uma herança musical levada ao sul do Brasil pelos portugueses. Essa teria se miscigenado com a música que aqui já havia, também de violas e rabecas, nas vilas e caminhos, desde os tempos da capitania de São Vicente. Sua musicalidade transitou por terra e mar, pelos canais e ilhas que interligam o litoral paranaense ao de Cananéia e Iguape, em São Paulo, na região conhecida como Lagamar, estendendo-se até o litoral norte de São Paulo.
         O fandango aqui apresentado é compreendido então como uma manifestação cultural popular brasileira, fortemente associada ao modo de vida caiçara, no qual dança e música são indissociáveis de um contexto cultural mais amplo. Sua prática sempre esteve vinculada à organização de trabalhos coletivos - mutirões, puxirões ou pixiruns - nos roçados, nas colheitas, nas puxadas de rede ou na construção de benfeitorias, quando o organizador oferecia como pagamento aos ajudantes voluntários, um fandango, espécie de baile com comida farta. Para além dos mutirões, o fandango era a principal diversão e momento de socialização dessas comunidades, estando presente em diversas festas religiosas, batizados, casamentos e, especialmente, no carnaval, onde se comemoravam os quatro dias ao som dos instrumentos do fandango.
         Atualmente é cada vez mais rara a realização de mutirões, embora estes ainda sejam organizados em localidades como Rio Verde, Utinga e Taquari. Com o avanço da especulação imobiliária e a transformação de grandes áreas da região em unidades de conservação, inúmeras comunidades tradicionais foram obrigadas a migrar para outras regiões, desarticulando importantes núcleos organizadores de fandangos.
         Os fandangueiros encontraram, no entanto, outras formas de vivenciar o fandango, através da organização de clubes de baile, de festas comunitárias, formação de grupos artísticos ou em recriações por grupos mirins. Nos dias atuais, é crescente a colaboração das comunidades com a realização de trabalhos de pesquisa e afirmação cultural das práticas caiçaras locais, através da formação de associações de fandangueiros e outras formas de organização.

            Música, dança e instrumentos

          O fandango encontrado na região possui uma estrutura bastante complexa, envolvendo diversas formas de execução de instrumentos musicais, melodias, versos e coreografias. A formação instrumental básica do fandango é composta, geralmente, por dois tocadores de viola, que cantam as melodias em intervalos de terças, um tocador de rabeca, chamado de rabequista ou rabequeiro, e um tocador de adufo ou adufe. O violão é usado em vários grupos de Cananéia e Iguape, assim como na Barra do Ararapira (Ilha do Superagui - Guaraqueçaba/PR). O cavaquinho também é bastante comum no estado de São Paulo e na Barra do Ararapira. Já o bandolim é encontrado apenas no grupo Violas de Ouro de São Paulo Bagre (Cananéia/SP), utilizando, no entanto, uma afinação completamente diferente da usual. Também são encontrados outros instrumentos de percussão como o pandeiro, surdos, tantãs, entre outros. O machete, instrumento de cordas bastante utilizado no passado para a iniciação musical dos fandangueiros por ser mais simples e menor que a viola, é bastante raro atualmente.
           Cada forma musical, definida pelos mestres violeiros, é chamada de marca ou moda, dependendo da região, e possui toques e danças específicas, que se dividem, basicamente, em duas categorias: os valsados ou bailados - dançados em pares por homens e mulheres, com ou sem coreografias específicas - e os batidos ou rufados. Nos batidos, os homens utilizam tamancos feitos de madeira resistente, como canela ou laranjeira, intercalando palmas e tamanqueando no assoalho de madeira, de acordo com a marca ou moda executada. As mulheres acompanham os dançadores em coreografias circulares, nas quais os pares vão traçando figuras, sendo a mais comum a de um oito, no sentido anti-horário. A maior parte dos grupos, atualmente, possui um mestre marcador, ou mestre-de-sala, responsável por guiar os demais dançadores e evitar que se cometa balaio, como eram chamados pelos antigos os erros nas danças. Grande parte dos instrumentos encontrados no fandango é de fabricação artesanal, tendo a caixeta ou caxeta (Tabebuia cassinoides, D.C.) como a madeira mais utilizada, e trazendo fama a alguns dos construtores de instrumentos ou “fabriqueiros”, encontrados ao longo do caminho.
             A viola de fandango, também chamada de viola branca, em Iguape,  guarda algumas semelhanças com a viola nordestina, mas diferencia-se especialmente pelo variado número de cordas e pela presença da turina, cantadeira ou periquita, corda mais curta que vai somente até o meio do braço da viola e, como o próprio nome diz, dá o tom da voz do violeiro. Em sua grande maioria, as violas possuem dez casas como as violas caipiras de meia-regra, mas os fandangueiros não as chamam de casas e, sim, de pontos, que são feitos com arame. As cravelhas são feitas de madeira dura e encaixadas no braço da viola, através de furos feitos com ferro quente. Morretes é a única localidade no Paraná em que a viola mantém as dez cordas, sendo nove finas e uma um pouco mais grossa no quinto par, mas não possui a turina.
            As violas de fandango são feitas com madeiras da região, podendo ser de fôrma (de aro) ou cavoucada (de cocho, escavada). No primeiro caso, o construtor tira filetes de madeira e põe na fôrma por alguns dias para que ela seja moldada e vai aos poucos montando o instrumento, peça a peça. No segundo, o construtor derruba uma árvore de tamanho suficiente para se fazer uma viola e, depois, vai esculpindo corpo e braço em uma peça única, colocando o tampo ou o fundo ao final. Além da caixeta, outras madeiras mais resistentes, como o cedro e a canela, podem ser utilizadas especialmente para confeccionar as cravelhas, sobrebraços, cavaletes e os detalhes do acabamento em machetaria.
          Os fandangueiros não possuem uma altura padrão para afinação das violas, que podem ser três: pelas três, pelo meio e intaivada (nome que, provavelmente, deriva de oitavada). A afinação em Morretes é denominada de pelas três, e esta só foi encontrada novamente na Barra de Ararapira, tocada pelo violeiro Fausto Pires. A afinação pelas três é a única no fandango em que, à maneira da viola caipira, as cordas soltas formam um dos acordes da música. O quinto e o quarto pares de cordas são sempre tocados soltos. O outro acorde é feito com uma meia pestana, onde o dedo um prende na quinta casa o primeiro, segundo e terceiro pares de cordas.
          A afinação pelo meio é usada somente na Ilha dos Valadares, em Paranaguá, enquanto a intaivada é tocada em Paranaguá, Guaraqueçaba, Cananéia e Iguape. Os intervalos para afinação entre as cordas, nas afinações pelo meio e intaivada, são semelhantes aos intervalos do violão, porém em oitavas diferentes. A afinação pelas três é semelhante a afinação guitarra da viola caipira. Usa-se na quase totalidade das modas a tônica (T) e a dominante (D) para o acompanhamento. Os violeiros usam apenas os quinto, sexto e sétimo pontos da viola para acompanhar as marcas ou modas, salvo raros momentos onde registramos o violeiro ponteando a viola.
          A rabeca também pode ser feita na fôrma ou cavoucada, utilizando-se vários tipos de madeira diferentes. O instrumento possui três cordas em quase toda a região, à exceção de Morretes e Iguape, onde é encontrada com quatro cordas. A afinação mais usada, da corda mais grossa para a mais fina, é de uma quarta justa. A rabeca sempre dobra a primeira voz e, nos momentos em que a moda ou marca não está sendo cantada, faz uma linha melódica própria, tendo um toque - ou ponteado - específico para cada uma. Segundo os fandangueiros, a rabeca enfeita o fandango e, por não ter pontos como a viola, é mais difícil de ser tocada. O dandão e a chamarrita, modas valsadas, possuem vários temas diferentes para rabeca, e podem ser tocados na mesma moda conforme a vontade do rabequista. Em São Paulo os toques de rabeca são diferentes dos toques do Paraná.
           No acompanhamento rítmico temos o adufo, espécie de ancestral artesanal do pandeiro, onde o couro é deixado mais frouxo para obtenção de um som mais grave. O adufo era, no passado, confeccionado com couro de cachorro-do-mangue (mangueiro), veado ou cutia. Atualmente, com as proibições da caça desses animais, é mais comum o uso do couro bovino ou bode, embora o adufo venha sendo cada vez mais substituído pelo pandeiro.
           Nos estudos dedicados ao fandango encontramos registros que dão conta de até duzentas marcas ou modas registradas. Embora este número nos pareça um pouco exagerado, de fato, impressiona a quantidade de toques e coreografias. No caso de São Paulo, essa prática é atualmente pouco comum, embora antigos fandangueiros ainda saibam dançá-lo .
          Dentre os valsados mais tocados, temos as chamarritas e os dandãos, como são chamados no Paraná e em Cananéia, e os bailados e passadinhos, em Iguape.  A chamarrita, também chamada de chamarrita de louvação, em muitos lugares, era a primeira marca que dava início ao fandango, onde se pedia licença para a brincadeira e era saudado o dono da festa. Vinha antes mesmo do anu, primeiro batido dançado. Atualmente, as chamarritas não possuem mais essa função, sendo apenas uma forma de tocar e dançar o fandango valsado.
          No Paraná, a grande maioria não possui refrão. O violeiro canta os versos que ele já conhece de cor, adaptados às diferentes melodias de chamarritas por ele conhecidas. Geralmente os dois violeiros usam a mesma batida e a rabeca acompanha em uníssono os cantadores, possuindo alguns toques solo para os entremeios das estrofes. Em São Paulo, a maioria das chamarritas registradas possui refrão. Os toques tradicionais de rabeca são diferentes dos toques paranaenses e o violeiro não precisa cantar todos os versos do refrão depois da despedida, podendo cantar apenas o primeiro e o último. O dandão, ao contrário da chamarrita, apresenta refrão na grande maioria dos registros realizados. Podem começar tanto pelo refrão como por qualquer uma das quadras escolhidas pelo fandangueiro. Depois da despedida, o violeiro tem que cantar todo o refrão. No dandão, como na chamarrita, a rabeca acompanha em uníssono o canto e possui outros toques para o entremeio instrumental.
            A maior parte das músicas cantadas no fandango não possui autor conhecido, sendo consideradas muito antigas pelos tocadores. Destacamos, no entanto, a presença dos modistas ou tiradores de moda da cidade de Cananéia, como Ângelo Ramos, Armando Teixeira, Paulo de Jesus Pereira, do grupo Violas de Ouro de São Paulo Bagre, e do Jovem Valdemir Antônio Cordeiro, o “Vadico”, do grupo Jovens Fandangueiros de Itacuruçá (Ilha do Cardoso - Cananéia).

FANDANGO CAIÇARA - IGUAPE - "SANDÁLIA DE PRATA"


ELDORADO: AÇÕES DE COMBATE AO CARAMUJO AFRICANO






           O departamento de Vigilância Sanitária está trabalhado “a todo vapor” para erradicar o mosquito da Dengue, porém outro problema de saúde pública vem preocupando o povo e as autoridades: os caramujos africanos. Nas últimas semanas aumentou o número de reclamações da incidência de caramujos nas ruas, calçadas e quintais das residências de Eldorado. Com a intensificação das chuvas, esses moluscos proliferaram, já que seu ambiente natural são os lugares úmidos. Por serem hermafroditas, reproduzem-se com mais intensidade, por isso é mais difícil erradicá-los. Além disso, eles se adaptam facilmente às condições climáticas da nossa região.
           Os caramujos africanos provocam doenças graves, contaminam o solo e a água e devastam hortas e jardins. Eles podem transmitir vermes que causam enfermidades neurológicas, como a meningite e angioestrongilíase abdominal, doença fatal que ataca os intestinos, com perfuração e hemorragia interna. Como não existe inseticida ou qualquer outro recurso para eliminá-los em grande número, sem danos para o meio ambiente, a solução do problema fica por conta da população.
             Os animais devem ser coletados um a um, com mãos enluvadas ou protegidas por mais de um saco plástico. Depois de reunidos, podem ser queimados ou jogados em algum recipiente com água e bastante sal (nesse último caso, dissolvem-se). Após eliminar o caramujo, as conchas deverão ser quebradas, para evitar que juntem água da chuva, na qual o mosquito da dengue poderá depositar ovos.

Informação importante:

             Para evitar que os caramujos africanos presentes em propriedades vizinhas cheguem ao seu terreno, prepare uma mistura de sabão em pó e água, formando uma calda forte, e espalhe sobre o muro. Refaça esse procedimento a cada três semanas ou após a chuva.

APÓLOGO POLITICAMENTE INCORRETO - MORADORES DO 4º ANDAR




        Um prédio de 4 andares foi totalmente destruído pelo fogo; um incêndio terrível.
 - Todas as pessoas das 10 famílias de Sem-teto, que haviam invadido o 1º andar, filhos de presidiários que ganham salário de R$ 850,00, faleceram no incêndio.
- No 2º andar, todos os componentes das 12 famílias de retirantes, que viviam dos proventos da "Bolsa Família", também não escaparam.
- O 3º andar era ocupado por 4 famílias de ex-guerrilheiros, todos beneficiários de ações bem sucedidas contra o Governo, todos também filiados ao PT, e amigos da Dilma, do Lula, do Agnelo, do Delúbio e do Dirceu, com altos cargos em estatais e empresas governamentais, que também faleceram.
- No 4º andar viviam engenheiros, médicos, advogados, professores, empresários, bancários, vendedores, comerciantes, policiais, e trabalhadores com suas famílias. Todos escaparam.
        Imediatamente a "Presidenta da Nação" indignada, por meio de sua assessoria mandou abrir um inquérito para que o "Chefe do Corpo de Bombeiros" explicasse a morte dos "queridos companheiros" e por que somente os moradores do 4º andar haviam escapado.
         O Chefe dos Bombeiros prontamente respondeu:
         "Eles não estavam em casa. Tinham saído para trabalhar!!!"

MORAL DA HISTÓRIA: (Margaret Thatcher, falando sobre a Revolução Francesa): “Liberdade, igualdade, fraternidade” – eles se esqueceram de obrigações e deveres.
E, ainda de M.T.: O problema do socialismo é que uma hora ele acaba com o dinheiro dos outros. 

domingo, 21 de abril de 2013

O “MODO” BRASILEIRO, E OUTROS MODOS




            Há muitas histórias a respeito de estrangeiros que passam algum tempo no Brasil e fazem observações interessantes sobre comportamentos de nossos patrícios, que eles acham interessantes, estranhos, exóticos ou divertidos. Recebi há pouco, por e-mail de um amigo, o relato sobre um francês que apresentou um rol de estranhezas sobre o nosso modo de ser:
Apenas dois exemplos:

             -Aqui no Brasil, tudo se organiza em fila: fila para pagar, fila para pedir, fila para entrar, fila para sair e fila para esperar a próxima fila. E duas pessoas já bastam para constituir uma fila.

             -Aqui no Brasil, o ano começa “depois do Carnaval”.
             Etc. etc.
          
             Isso tudo é nossa realidade, que não é a realidade de um estrangeiro. Mas é bom acrescentar que o Brasil é um país muito extenso, do que resulta que a “realidade” de uma região, também é diferente da ”realidade de outra”, o modo como se procede numa cidade, pode ser bem diferentes dos modos de agir de outra. Entretanto, isso é comum, em todo mundo. Já vi japoneses comentarem sobre exotismos de uma determinada ilha do “império”, diferente do usual, cujo padrão é Tóquio. E Mark Twain, em Tom Sawyer, fala em “deep South of America”, diferenciando os hábitos dessa região do resto dos Estados Unidos. E, mais, mesmo num país de pequenas dimensões, como a França (se tomarmos como padrão o Brasil), o Norte é diferente do Sul, Paris não é igual a Marselha. Lembro que, quando, d’Artagnan juntou-se aos três mosqueteiros (em Alexandre Dumas e no filme que se baseia nele), a primeira coisa que se destaca, no personagem é seu jeito “caipira” (é a visão do autor, que ele passa aos seus personagens) já que ele era da Gasconha.  
              Mas este pequeno texto é o “prefácio” sobre um relato maior, que pretendo desenvolver, em outras notas, neste BLOG, sobre minha experiência, como “estrangeiro” em minha própria terra, Iguape, depois de ter vivido mais de cinquenta anos fora. Sobre isso, escrevi um pequeno livro “IGUAPE, cidade do humor fraternal”, publicado por minha conta, em 2005. Os relatos, aqui, serão extraídos do livro. Talvez minha visão, hoje, seja diferente daquela, do ano em que escrevi. Como dizia Heráclito, o filósofo grego, “ninguém se banha duas vezes, no mesmo rio; na segunda vez, tanto o homem quanto o rio já deixaram de ser o que eram”. De qualquer maneira, haja o que houver, a tese geral das ”diferenças” se mantém em pé.

sábado, 20 de abril de 2013

PROTESTO MEIO FORA DO LUGAR





           Aqui não é bem o lugar para esse protesto, mas não dá para aguentar esse caso de brasileiros presos na Bolívia, por conta de um acidente besta, ocorrido no meio de um jogo de futebol. Um garoto lança um pistolão, outro garoto é atingido e, antes que se descubra de quem é a culpa, prende-se um grupo de torcedores. Está certo que eles são corinthianos (desculpem! Não dá pra resistir, quá, quá, quá!), mas antes de tudo são brasileiros, e isso devia inspirar respeito aos nossos vizinhos.
           Já não bastava o Lula ter engolido (e nos ter feito engolir, por extensão) o assalto do governo boliviano a uma refinaria da Petrobrás e, agora, a Presidente Dilma, pau mandado do Lula, suporta o desplante de um demagogo que mantém presos torcedores brasileiros (se bem que corinthianos!), por tempo indeterminado, sem provas diretas, apenas uma tomada fotográfica. É bom lembrar que à ofensa da prisão se soma o desconforto físico de uma prisão que parece um chiqueiro, não muito diferente de algumas das nossas cadeias, é verdade. Mas isso já é outra história.




RELEMBRANÇAS POÉTICAS


RELEMBRANÇAS POÉTICAS

                           A arte: Freud explica

       O amor é belo, mas se torna doloroso quando seu alvo está fora do alcance. E, aí, como escreveu Manuel Bandeira, o jeito é “tocar um tango argentino”. Esse desvio do impulso amoroso para a criatividade artística é o que Freud chamou de “sublimação”. Graças a esse mecanismo de compensação, aliado a uma boa dose de talento, é que podemos nos deleitar com tantos poemas e canções, mesmo suspeitando que seus autores tenham passado por noites de insônia ou bebedeiras catárticas. Que eles (ou elas) se ralem nos espinhos do ciúme e do desprezo de suas amadas (ou amados), desde que nos propiciem boas obras de arte! No final das contas, a poesia ou a música, dedicadas aos entes queridos, ingratos ou inalcançáveis, acabam trazendo vantagens tanto para quem as faz, porque o alivia da angústia, como para quem as usufrui, como válvula de escape para suas crises amorosas, ou simplesmente para seu prazer.
            No exercício da poesia, em função da intensidade emocional, do delírio da paixão, o artista muitas vezes, torce, exagera, disfarça ou omite, o objeto de seu devaneio. Na gramática das artes, essas simulações de denominam hipérbole, metáfora, metonímia e outros termos esdrúxulos. Se, por um lado, esses recursos de retórica arrastam o pensamento para fora da realidade, por outro, trazem uma luz de beleza e expressividade ao objeto artístico. Envolvido pelos fluidos inebriantes da arte, o leitor sai da rotina do relógio e do calendário, esquece o bom senso, o ramerrão do dia-a-dia, abole as leis da física e toda a lógica que os cientistas e filósofos levaram séculos para descobrir.
           É dentro desse espírito exaltado que, na composição da valsa “Neusa”, de Antônio Caldas e Celso de Figueiredo, o poeta não se contenta em devotar apenas os seus versos à amada, mas invoca para ela todo o esplendor da noite: “Há, na luz clara e tranquila do luar / Um poema em louvor do teu olhar”. Mais à frente, com “A tua boca a sorrir / Mostra pérolas roubadas ao mar”. No simples ato de elogiar um sorriso, o autor introduz um dramático assalto às riquezas do mar, que conduz nossa imaginação aos tempos da pirataria. Em “Páginas de Amor”, de Cândido da Vera Mendes (Índio) e do inesquecível Pixinguinha, o autor da letra, lamentando a sorte de quem “esconde uma paixão”, usa uma imagem, lindíssima para a expressar a dor que se oculta: “Lágrimas existem que rolam na face / Há outras, porém, que rolam no coração”. Isso tudo, acompanhado com os floreios do saxofone do Pixinga, amolece o coração mais empedernido!
          Mas é claro que esses caprichosos malabarismos poéticos não começaram há pouco tempo. Só para não voltar muito atrás, não é que até Gregório de Matos, o repentista zombeteiro, deixou-se levar pelos arroubos poéticos, para cantar a beleza da donzela Da. Ângela, sua contemporânea? “Mas vejo, que por bela e por galharda / Posto que os Anjos nunca dão pesares / Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda”. Um salto histórico mais à frente e encontramos uma demonstração de que, para o poeta, nem a morte apaga o encanto da beleza feminina. José Basílio da Gama, no episodio “Morte de Lindoia”, do poema “Uraguai”, descreve: “Inda conserva no pálido semblante / Um não sei que de magoado e triste / Que os corações mais duros enternece / Tanto era bela no seu rosto a morte.”
          Seria injustiça e grave esquecimento não citarmos aqui o nosso “Príncipe dos Poetas”, o antológico Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, o homem para quem só “os que amam podem ter ouvido / Capaz de ouvir e de entender estrelas”. Num soneto intitulado “Milagre”, ele mostra a redescoberta do amor, por duas pessoas idosas: “Depois de tantos anos, frente a frente / Um encontro. O fantasma do meu sonho / E, de cabelos brancos, mudamente / Quedamos frios, num olhar tristonho”. Após o anticlímax, de repente as mãos se tocam e, então: ..”E fulgimos, volvendo à mocidade / Aureolados dos beijos que tivemos / No divino milagre da saudade”.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

IGUAPE COMEMORA, COM PALESTRA, A VISITA DE VOLPI À CIDADE


             Há 60 anos, o grande pintor ítalo-brasileiro, Alfredo Volpi, visitou Iguape, hospedou-se no Hotel do Comércio, cuja fachada transformou num seu famoso quadro. Para comemorar os 60 anos desta visita, a Oficina Cultural Gerson de Abreu, espaço da Secretaria de Estado da Cultura, administrada pela POIESIS – Instituto de Apoio à Cultura, à Língua e à Literatura, com do Departamento de Cultura, Eventos e Turismo, da Prefeitura de Iguape, programou para o dia 19 de abril - hoje, às 20h, a palestra “Volpi, 60 anos Depois”, que será proferida por Olívio Tavares de Araújo, no próprio Hotel do Comércio, na Rua das Neves, onde o artista se hospedou.
            A palestra abordará principalmente as mudanças estilísticas que aconteceram na pintura do artista de 1953 até a sua morte em 1988. Mostrará também o princípio de sua obra, confirmando sua originalidade e coerência, a linearidade de sua evolução e a integridade artística e pessoal do pintor.
           Olívio Tavares de Araújo é crítico de arte e cineasta. Estudioso da obra de Mozart, foi editor de música clássica da revista “Veja”, na década de 1970. Como cineasta, realizou mais de trinta curtas-metragens, sobretudo sobre o processo criativo de artistas plásticos brasileiros. Além de intensa atividade, como crítico e ensaísta, convidado de vários jornais e revistas, no Brasil e no exterior, Araújo tem atuado como curador de mostras de artes, entre elas duas sobre o pintor Alfredo Volpi. Publicou: “Volpi: a Construção da Catedral” (Museu de Arte Moderna de São Paulo, 1981) e “Dois Estudos Sobre Volpi” (Funarte, 1986).

CHAMEM O GENERAL CUSTER! (BRINCADEIRINHA)


NOTA:
O fato se deu lá por Brasília, mas é de nosso interesse, neste rebordo inferior do Estado de São Paulo, porque também somos Brasil e temos índios aculturados por aqui, pedindo dinheiro e vendendo palmito na feira – o que é proibido aos brancos.

Notícia de ontem:  Grupo de índios tenta invadir Palácio do Planalto

          Aos gritos de "Dilma assassina", representantes de diferentes etnias tentaram nesta quinta-feira (18) invadir o Palácio do Planalto. De mãos dadas, eles cantam e cercam o local de trabalho da presidente Dilma Rousseff, que viajou para o Peru para participar de reunião extraordinária da Unasul em Lima. O encontro foi convocado para discutir os questionamentos sobre a legitimidade da votação que deflagrou uma crise política na Venezuela.
        Munidos de tambor e chocalho (e também de relógios de pulso e anéis – mas isso não interessa à notícia), os índios pedem a revisão e demarcação de terras. Protestam também contra as mortes de etnias (tiveram aulas de Antropologia, na USP, certamente!). "A ideia é que Dilma atenda a gente. Ela nunca nos recebeu para conversar", disse Inácio Shanenawa, do Acre. "Não queremos invadir o Palácio, mas queremos ver a presidente, ou que ela se manifeste a nosso respeito. Só vamos sair quando tivermos uma audiência marcada com Dilma", diz Neguinho Trucá (apelido típico do bairro boêmio da Lapa, no Rio de Janeiro), de Pernambuco, afirmando que representantes dos índios já se reuniram com 12 ministros e que eles prometeram colocá-los em contato com a presidente, mas o encontro ainda não aconteceu.
           A Polícia Militar estima que cerca de 400 manifestantes estejam na porta do Palácio do Planalto. Seguranças protegem a entrada e fecharam a porta principal do Planalto, onde os índios se concentraram.

NB: Talvez um antropólogo pudesse fazer uma apreciação mais aprofundada desse fenômeno de índios reivindicantes. Do meu escritório de observação, e com meus parcos conhecimentos de Etnologia, não consigo ir além de umas poucas considerações:
1-   Será que aquelas índias de saias e sutiãs conservam alguma coisa, não digo da Iracema de José de Alencar, mas pelo menos daquelas cunhãs, que, atravessavam os matos, carregavam o filho num braço e um porrete no outro, para se defender de bichos perigosos?
2-   Será que aqueles índios de cocares mal confeccionados, com penas de galinha e de peru, em vez dos silvestres papagaios e tucanos, de bermudas e, até, possíveis cuecas por baixo, não estão seduzidos pelo pensamento moderno, de acumulação de capital?
3-   Será que o pensamento sindicalista-petista-reivindicante, dos anos de formação de Lula só agora começaram a contaminar o pensamento selvagem?  

     SOCORRO, Claude Levi-Strauss!!!

O VALE DO RIBEIRA GLOBALIZADO


          

           
            A Internet nos dá seguidas surpresas pelo seu alcance e variedade de opções. Uma obscura região do Estado de São Paulo é capaz de ficar conhecida por algum curioso internauta da Espanha, Malásia, etc. com um simples toque dos dedos, num teclado. Pude verificar isso no meu Blog, que descreve, comenta e divulga atividades e opiniões de uma obscura região do Estado de São Paulo, o Vale do Ribeira. Colocado, literalmente, à margem (no sentido real e no figurado) da logística do comércio nacional e internacional, à beira-mar e transpassada pela Rodovia Regis Bittencourt, que comunica não só os estados brasileiros do sul como também os parceiros comerciais do Mercosul, Argentina e Uruguai, com o centro dinâmico da economia brasileira, o Vale do Ribeira apresenta realmente modestos índices de desenvolvimento.
           Pois é a conjugação dessa marginalidade econômica indesejada, com o alcance de nossas mensagens internéticas, que nos surpreende. Para que o leitor perceba isso, publicamos abaixo a estatística de acesso ao nosso Blog, apenas nesta primeira metade do mês de abril, até dia 18, às 18 hs. Todos os números são surpreendentes (confessemos, também, alvissareiros), principalmente os da Rússia (54), e da Alemanha (44), mas as presenças da Malásia, Nigéria e Peru, embora com modestas aparições, são de nos causar espanto, um alegre espanto, por sinal! Vejamos os números:
          
                    PAISES                                N. de acessos

                    Brasil .......................................... 287
                    EUA ............................................ 241
                    Rússia .........................................  54
                    Alemanha ....................................  44
                    Reino Unido .................................  10
                    Espanha .......................................  3
                    Malásia ........................................  2
                    França .........................................   1
                    Nigéria ........................................   1
                    Peru .............................................  1
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