Uma matéria da revista Piauí de
abril traz interessantes considerações sobre a diferença de recepção dos
cidadãos, quanto às ofertas de “produtos”, públicos e o privados. Esclareça-se que
produtos, aqui, significam não só mercadorias, mas serviços, compreendendo,
estes, o atendimento puro e simples. O artigo é da autoria de Wolfgang Streeck,
sociólogo alemão, diretor do Instituto Max Planck para o Estudo das Sociedades.
A explanação é longa e minuciosa, aponta muitos ângulos e conclusões, mas vou
tentar resumi-la, nos pontos principais, para o conforto, tanto do leitor como
do meu. Também não farei citações literais, para evitar o vai-e-vem, na leitura
e compreensão do texto. Além do mais, este artigo se destina a destacar pontos
específicos, que acredito serem de interesse mais imediato e, pela sua leveza,
mais de acordo com o tom e os objetivos deste Blog.
Resumindo, o autor põe em
destaque a maior importância que o cidadão, de modo geral, dá às ofertas de
qualquer natureza, dos produtos fornecidos por entidades privadas, do que as de
origem do poder público. Por que isso acontece? O autor explica: as ofertas do
poder público são padronizadas, isto é, são uma continuação do exercício das leis
democráticas do estado moderno. O tratamento de exceção, por ventura concedido
a um cidadão qualquer, é arbitrariedade do funcionário encarregado, que assim
age ao arrepio de sua obrigação. Por outro lado, o produto “particular” é específico
para cada cidadão, ou pelo menos assim se apresenta, não tanto como realidade,
mas como aparência. Mesmo que o “freguês” (no serviço público é o “cidadão”) particular
saiba que aquele produto é igual para todos os usuários, o fornecedor trata de
convencê-lo de que ele o recebeu com especial atenção.
Isso é particularmente sensível
em serviços de saúde ou de atendimento nos guichês. Pode-se alegar que o
funcionário público, resguardado pelo estatuto da “estabilidade”, é mais
displicente no atendimento, do que o empregado particular, que pode ser
despedido se não cumprir seu papel de modo exemplar. Isso pode até ser verdade,
mas não se deve esquecer, aqui, do papel da subjetividade do cliente, que já
está prevenido, antecipadamente, pela alardeada diferença entre o público e o
privado.
Mas o sociólogo alemão vai além
desse ponto. Antes de tudo, ele acentua, a empresa particular abandonou o
chamado “fordismo”, a intenção do capitalista americano de fornecer um produto padronizado,
portanto mais fácil de produzir e mais acessível a um número maior de cidadãos,
e passou (a empresa particular) a produzir produtos individualizados, com
vistas ao desejo de originalidade de cada cidadão. Mesmo que isso não seja possível,
pela quantidade de produtos que devem ser produzidos e vendidos, o número de empresas
produtoras de um mesmo bem garante a diversificação de sua aparência, de sua qualidade
e outras variações. O que se opõe, aqui, como público e privado, portanto, não é
um contra outro, mas um contra muitos. As empresas privadas (de mercadorias ou
serviços) vencem as empresas públicas pela diversificação de seus produtos, o que
dá ao cidadão a oportunidade da escolha e o consequente orgulho do privilégio,
embora, na maioria das vezes, seja um “privilégio
de grupo”, já que nem todos são milionários.
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