sexta-feira, 12 de abril de 2013

O PÚBLICO E O PRIVADO


            Uma matéria da revista Piauí de abril traz interessantes considerações sobre a diferença de recepção dos cidadãos, quanto às ofertas de “produtos”,  públicos e o privados. Esclareça-se que produtos, aqui, significam não só mercadorias, mas serviços, compreendendo, estes, o atendimento puro e simples. O artigo é da autoria de Wolfgang Streeck, sociólogo alemão, diretor do Instituto Max Planck para o Estudo das Sociedades. A explanação é longa e minuciosa, aponta muitos ângulos e conclusões, mas vou tentar resumi-la, nos pontos principais, para o conforto, tanto do leitor como do meu. Também não farei citações literais, para evitar o vai-e-vem, na leitura e compreensão do texto. Além do mais, este artigo se destina a destacar pontos específicos, que acredito serem de interesse mais imediato e, pela sua leveza, mais de acordo com o tom e os objetivos deste Blog.
              Resumindo, o autor põe em destaque a maior importância que o cidadão, de modo geral, dá às ofertas de qualquer natureza, dos produtos fornecidos por entidades privadas, do que as de origem do poder público. Por que isso acontece? O autor explica: as ofertas do poder público são padronizadas, isto é, são uma continuação do exercício das leis democráticas do estado moderno. O tratamento de exceção, por ventura concedido a um cidadão qualquer, é arbitrariedade do funcionário encarregado, que assim age ao arrepio de sua obrigação. Por outro lado, o produto “particular” é específico para cada cidadão, ou pelo menos assim se apresenta, não tanto como realidade, mas como aparência. Mesmo que o “freguês” (no serviço público é o “cidadão”) particular saiba que aquele produto é igual para todos os usuários, o fornecedor trata de convencê-lo de que ele o recebeu com especial atenção.
               Isso é particularmente sensível em serviços de saúde ou de atendimento nos guichês. Pode-se alegar que o funcionário público, resguardado pelo estatuto da “estabilidade”, é mais displicente no atendimento, do que o empregado particular, que pode ser despedido se não cumprir seu papel de modo exemplar. Isso pode até ser verdade, mas não se deve esquecer, aqui, do papel da subjetividade do cliente, que já está prevenido, antecipadamente, pela alardeada diferença entre o público e o privado.
              Mas o sociólogo alemão vai além desse ponto. Antes de tudo, ele acentua, a empresa particular abandonou o chamado “fordismo”, a intenção do capitalista americano de fornecer um produto padronizado, portanto mais fácil de produzir e mais acessível a um número maior de cidadãos, e passou (a empresa particular) a produzir produtos individualizados, com vistas ao desejo de originalidade de cada cidadão. Mesmo que isso não seja possível, pela quantidade de produtos que devem ser produzidos e vendidos, o número de empresas produtoras de um mesmo bem garante a diversificação de sua aparência, de sua qualidade e outras variações. O que se opõe, aqui, como público e privado, portanto, não é um contra outro, mas um contra muitos. As empresas privadas (de mercadorias ou serviços) vencem as empresas públicas pela diversificação de seus produtos, o que dá ao cidadão a oportunidade da escolha e o consequente orgulho do privilégio, embora, na maioria das vezes,  seja um “privilégio de grupo”, já que nem todos são milionários. 

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