Houve um tempo em que a palavra
escrita se constituía numa espécie de mensagem privilegiada, a que todos anuíam
e respeitavam, seja pela cultura e habilidade do redator, seja pela ignorância
generalizada dos leitores. Atualmente, diante da presença massacrante da TV e,
agora, da Internet, a palavra da imprensa escrita teve rebaixada sua
importância, como criadora de convicções, instigadora de diálogos ou, mesmo,
ponto de atrito entre posições contraditórias, nos meios intelectuais da
cidade, do estado ou do país e, até, em raros incidentes, do mundo todo.
Por conta da universalização dos
costumes e das opiniões, o mesmo que foi dito acima, de modo geral, se aplica,
mutatis mutandis, ao Vale do Ribeira, às nossas cidades. Assim mesmo, com essa
pouca frequência e consequente pouca influência, a palavra escrita segue
avante, resistindo ao avassalador poderio da imagem da TV e da instantaneidade
da Internet. E, mais, a imprensa deixou o Olimpo dos grandes mestres da língua
e hoje é feita (eu quase disse “perpetrada”) por pessoas do povo (modo de
dizer: pessoas de modesta cultura), o que, longe de ser um mal, é um bem,
porque os grandes nomes da palavra escrita, que dominavam a imprensa antiga,
nem sempre sabiam o que ocorria nos arraiais populares e, por isso, se apegavam
a temas e pontos de vista que refletiam mais sua vivência com os livros do que
com o dia-a-dia das pessoas.
Tenho em mãos o exemplar de um desses jornais
semanais que, ultimamente, pululam em nossas bancas de periódicos. O título do
jornal é esperançoso: “O PROGRESSO DO VALE”. (Que Deus os ouça!) As manchetes
de frente anunciam notícias quentes: “Miracatu – Produtores rurais podem perder
tudo”; e mais abaixo: “Iguape – Vereadores se desentendem”. No pé da página,
miudezas da semana: “Empresário de Iguape se destaca no Vale do Ribeira / Júnior
exige equiparação salarial no setor de saúde de Iguape / Vereadores de Miracatu
falam dos planos para o futuro do município”, etc.
Pretendo retomar esses assuntos, de
vez em quando, mas no momento gostaria de pôr em destaque apenas alguns
detalhes dessa escrita ligeira, porque acredito que ela seja a expressão do
pensamento, das convicções e das percepções de muitos cidadãos desta nossa região.
Não fora isso, esses periódicos não prosperariam, embora, diga-se a verdade,
eles lutem com muita dificuldade para “vender” sua mensagem, porque (e aqui vai
uma informação que vale para quase todo o Brasil, e não só para nós) os
brasileiros gastam com muito mais gosto 40 reais para assistir a um jogo de
futebol, ou 5 reais para comprar um sorvete, do que 30 reais por um livro, ou 2
reais para comprar um jornal.
Mas vamos ao jornal. Desta vez, para
não me prolongar muito, vou me restringir à crítica da linguagem, como uma narcisística
homenagem ao meu próprio passado de Revisor e Redator de um grande jornal da
metrópole. Como aconselhava, se não me engano, o Coelho Maluco, de Alice no País
das Maravilhas, “começo pelo começo”. Estou lendo um desses periódicos vendidos
em Iguape. Na primeira página, já no Editorial, o editor, naturalmente, comentando
certas atitudes de alguns cidadãos, dá grandes braçadas, na piscina da Psicologia:
“Estas pessoas têm um comportamento de autoestima pelo ser humano e estão
dispostas a ajudar qualquer um necessitado mental e fisicamente sem pensar no
retorno financeiro”. E mais à frente: “Essas pessoas são motivadas por uma ação,
um interesse altruísta de beneficiar o ser humano..” E, por aí vai. Daremos continuação
ao tema!
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