É preciso repensar o Ensino de Matemática em nosso Município
Leyla Fortes
Enquanto educadora, sinto-me
profundamente incomodada com os dados alarmantes diagnosticados em nossos
alunos ao chegarem ao ensino médio, principalmente no que diz respeito ao
Ensino de Matemática. Um levantamento realizado pela Secretaria da Educação do
Estado de São Paulo, em fevereiro deste ano, mostrou que 95%, dos 163 alunos do
1º ano do ensino médio, não apresentaram os conteúdos mínimos necessários para
seguir adiante no Ensino de Matemática. Em minha escola, na qual sou
coordenadora, dos 190 alunos que ingressaram no EM cerca de 90% apresentaram
déficit significativo de aprendizagem na disciplina. Esse é um fator de extrema
importância para que esses alunos possam ingressar no mercado de trabalho, via
concurso público e/ou ensino superior. O que será do futuro de nossas crianças
e adolescentes?
Outro fato alarmante diz
respeito ao índice de retenção no Ensino Médio. O jornal “O Estado de S. Paulo”
publicou em 17/05/2012: “Reprovação do ensino médio de SP cresce 11%”. Por
quê? Qual o motivo? Podemos levantar alguns fatores como, por exemplo, baixa
autoestima, sentimento de impotência, fracasso escolar, exclusão social,
necessidade de trabalhar e até, mesmo, falta de perspectiva futura. Mas, se o
aluno chega ao Ensino Médio com tais sentimentos e dificuldades, faz-se
necessário preocuparmo-nos, urgentemente, com o ensino dos anos anteriores, que
começa na Educação Infantil e se estende até o Ensino Fundamental II. É preciso
reavaliar as práticas do Ensino de Matemática. Sabemos perfeitamente que a
matemática está presente no cotidiano de todos nós. Aprendemos a calcular
nossas compras, o troco, o desconto no preço dos produtos, etc. Mas, por que,
então, nos bancos escolares, os alunos não demonstram tais habilidades?
A intenção deste artigo não é
apontar culpados, mas desenvolver uma reflexão em todos os educadores do
Município, com o objetivo de juntos, desenvolverem propostas e ações eficazes
visando à melhoria do ensino da Matemática. Cientistas, psicólogos e pedagogos
afirmam que todos nós somos capazes de aprender, que nossos cérebros possuem
uma capacidade imensa de assimilar qualquer assunto. Mas como está nossa
prática em sala de aula? Como está nossa formação e atualização profissional?
Os nossos métodos didáticos têm sido renovados a fim de estimular cada vez mais
nossos alunos? Ou continuamos repetindo o modelo no qual fomos educados nos
bancos escolares, há décadas? Precisamos repensar tais questões e partir para
uma nova busca.
Piaget (1896/1980) nos deixou
estudos valiosos sobre o desenvolvimento cognitivo da criança. Ele demonstrou,
através de inúmeras experiências, que a criança, de idade aproximada entre os 7
– 12 anos, se encontra no período operatório-concreto. Ou seja, faz-se
necessário um estudo mais aprofundado da teoria e colocá-la em prática. Bem
como a elaboração ou reinvenção de uma didática na qual nossas crianças possam
aprender a Matemática brincando, jogando, vivenciando através do corpo, de
objetos, etc.
Devemos acentuar
que essas práticas não são necessárias somente na Educação Infantil, mas sim ao
longo de todo o ensino Fundamental I e II.
É preciso repensar a formação
docente. É sabido que, em grande parte dos cursos de Pedagogia, há falhas na
formação do professor de Matemática das séries iniciais. Talvez porque este não
seja o objetivo, uma vez que se supõe que esse aluno já possua os conhecimentos
mínimos necessários. Mas infelizmente não é o que acontece. Muitos alunos
escolhem a Pedagogia justamente para não terem que estudar Matemática, devido a
traumas sofridos durante seu aprendizado. Por sua vez o curso, em sua grade
curricular, oferece somente as práticas pedagógicas do ensino da Matemática.
Não tem por obrigação ensinar Matemática aos seus alunos. Esses futuros
professores, que terão pela frente uma responsabilidade imensa de desenvolver o
gosto e o prazer pela Matemática, o que é perfeitamente possível, apresentam
sérias dificuldades. Diante desse dilema, precisamos assumir a postura
socrática: “Sei que nada sei”, e partir para a busca dessa formação e superação
das dificuldades.
Se, enquanto professores, queremos fazer a
diferença e cumprir com os nossos deveres e obrigações, então precisamos buscar
constantemente formação, pois nos encontramos num processo de transformação que
só chegará ao fim quando deixarmos de viver. Então, deixo o apelo de uma
educadora que se propõe a unir forças e lutar para evitar a continuidade dos
dados negativos. Precisamos formar cidadãos capazes de se sentirem seguros para
enfrentar as dificuldades e desafios da vida, sem sentimentos de inutilidade e
fracasso.
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