terça-feira, 16 de abril de 2013

O SER E O NADA – A SIMPLIFICAÇÃO DO MUNDO


          Desde a Idade Média até mais ou menos o século XVII, os europeus dividiam a Humanidade em dois tipos de pessoas: cristãos e infiéis; por sua vez, os árabes e outros povos do Oriente próximo, mudavam as denominações para muçulmanos e infiéis. Para os europeus, quem não fosse cristão, a não ser em raríssimas exceções, ia para o inferno. Numa forma inversa, isso funcionava também entre os muçulmanos. Desse modo, pela lógica, que nunca habitou o mundo da religião, toda a Humanidade, por estar deste ou daquele lado, estava condenada a padecer eternamente nas Caldeiras do Botelho.
          Na atualidade, os teorizadores ideológicos deixaram em segundo plano as categorias religiosas e dividiram a humanidade segundo a terminologia dos membros humanos: esquerda e direita. Nesse processo, a posição “direita”, antes santificada na Teologia, foi satanizada e, por vias das consequências, evitada, desde que os nazistas e fascistas foram derrotados nos anos quarenta do século XX. Então, para evitar mal-entendidos, o pessoal da direita passou a se autodenominar “de centro”. Por sua vez, a turma da esquerda, santificada por um passado de lutas contra o nazismo, o fascismo, os governos militares e os ditadores de todos os matizes, apossou-se das honras e privilégios teocráticos vigentes, na Idade Média, tanto entre os cristãos como os muçulmanos, e passou a vilipendiar quem não luta nas suas trincheiras.                
            Aqui, no Vale do Ribeira, esse colorido ideológico foi substituído por duas posições políticas simplificadas: “situação” e “oposição”. Os adeptos da situação cacarejam alegremente sua opção em qualquer lugar público, mas os da oposição cultivam a discreta atitude de só criticar os atos e fatos políticos na intimidade de sua grei. Dessa maneira, a impressão de um visitante eventual da cidade é de que quase todos os seus habitantes são favoráveis às autoridades de plantão.
           Outra característica da política das pequenas cidades é a fluidez das fronteiras ideológicas (ao contrário da fixidez pétrea das convicções religiosas do passado). O candidato pelo PSC (Partido Social Cristão) numa eleição poder ser o candidato pelo Partido Comunista Brasileiro, na outra; o “tucano” de hoje pode ser o petista de amanhã. Essa “infidelidade partidária” é o resultado da luta pelas siglas, duelo que se desenvolve assim que se aproximam as datas de eleição. Não conheço bem os procedimentos dessa “jornada no escuro”, mas sei que, por trás delas, há o poder dos políticos de âmbito estadual e federal, que precisam agradar lideranças locais, visando sua própria eleição, no futuro. 

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