EVOLUÇÃO
Segundo os antropólogos, os primeiros jogos de amor da Humanidade, na
Idade da Pedra, consistiam numa corrida desenfreada, num safanão maneiro e num
sôfrego ataque. Por conta disso, os fracotes, os desajeitados, os horrorosos
(supõe-se que as dondocas selvagens desandassem numa irresistível carreira quando
os viam) perderam muitas oportunidades de procriar, o que, com o passar dos
anos, ajudou na melhoria eugênica da espécie. Este último fato que tornou possível,
na posteridade, o surgimento de belos e fortes espécimes humanos, como a periguete
Marilyn Monroe, o metrossexual George Clouney, o façanhudo Schwarzeneger e o
simpático Maguila.
Por outro lado, já naquela longínqua
era, uma das armas de que os cavalheiros lançavam mão, na conquista de seu
lugar ao sol, ou à sombra das bananeiras, era a esperteza, daí que também uma
das qualidades apuradas pela evolução, no correr dos milênios, foi a negaça, o
vai-que-depois-eu-vou, enfim a manha, que resultou na atilada raça dos
políticos de todos os tempos e países, não só do Brasil e de agora, como pensam
alguns pessimistas patrícios. Também não devemos nos esquecer dos ponderados e
sábios feiticeiros, ancestrais dos clérigos, filósofos e cientistas de nossos
dias. Naturalmente aqueles sisudos cavalheiros não gastavam suas energias correndo
atrás das moçoilas, com a boa intenção de perpetuar seus genes, mas atraíam-nas
com histórias bonitas e conselhos batutas, para, enfim, no correr da conversa,
assim como quem não quer nada, sugerir um romântico passeio pelos bosques.
Mas o que eu queria dizer, mesmo, com
essa introdução antropológica das arábias, é que o gênero humano vai sempre em
frente, como que querendo descobrir o que há por trás das montanhas aonde se
põe o sol. Assim é que, no correr dos séculos, o homem foi inventando mil
maneiras de conquistar as mulheres (e vice-versa, que elas não dormem no ponto)
sem precisar se esfalfar numa corrida desesperada pelo matagal, cheio de cobras
e lagartos. Muitos artifícios surgiram, desde então, difíceis até de numerar.
Pois até dizem que os tambores africanos (são os mais famosos, mas tambores há
por toda parte) foram o resultado evolucionista do hábito dos moçoilos
escurinhos daquelas plagas de imitarem com eles suas batidas cardíacas,
expressão de seu desejo em flor, com a finalidade de conquistar o direito a uma
cheirada no cangote das cabrochas. Do tambor se passou à viola, desta ao piano
e, enfim, quando os homens chegaram às orquestras, a mulherada já estava bem
pertinho, ao alcance das mãos (modo de dizer), atraída pelos acordes das
sinfonias de Mozart e companhia ilimitada.
Mas, então, quando se pensava que a evolução
da inventividade masculina (e feminina) na corrida atrás da cara metade tinha
chegado ao seu ápice, eis que inventaram o computador, com suas variações de
todos os tamanhos e formatos. À parte os conchavos diretos, no Skype, que põe
os interlocutores cara-a-cara (literalmente), o que, até certo ponto liquida
com o fingimento das palavras das ligações telefônicas, vencidas pelas
expressões faciais e corporais, muito mais sinceras, o Facebook persegue os
cidadãos e as cidadãs, onde quer que estejam, com uma rapidez que nossos pais,
para não lembrar nossos avós, e muitos menos nossos ancestrais “enamorados
mateiros” jamais imaginariam.
Pois, agora, para desespero dos pais
menos atualizados nos costumes e nas técnicas computacionais, e dos namorados inseguros
e desconfiados, o Facebook inovou com um aplicativo, que vai tornar a “caçada”
pelo parceiro (avulso ou alheio) uma moleza: o “Bang with Frieds”. Não vou
chegar aos detalhes da coisa, primeiro porque, nesta era de facilidades, o
leitor talvez já esteja careca de saber, ou, em caso contrário, porque posso
ser acusado de instigador de maus costumes, por algum moralista extraviado
neste mundo de licenciosidades ilimitadas. De qualquer maneira, para aqueles
que lamentam o fim do romantismo “não-me-toques”, dos violões noturnos, dos
bilhetinhos piegas e dos olhares enviesados, chegou a hora de “cair na real”,
conformar-se com um mundo que não para de mudar e, assim, tomar um rumo
definido na vida: partir para a gandaia ou internar-se num convento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário