quinta-feira, 25 de abril de 2013

CRÔNICA



                  EVOLUÇÃO

         Segundo os antropólogos, os primeiros jogos de amor da Humanidade, na Idade da Pedra, consistiam numa corrida desenfreada, num safanão maneiro e num sôfrego ataque. Por conta disso, os fracotes, os desajeitados, os horrorosos (supõe-se que as dondocas selvagens desandassem numa irresistível carreira quando os viam) perderam muitas oportunidades de procriar, o que, com o passar dos anos, ajudou na melhoria eugênica da espécie. Este último fato que tornou possível, na posteridade, o surgimento de belos e fortes espécimes humanos, como a periguete Marilyn Monroe, o metrossexual George Clouney, o façanhudo Schwarzeneger e o simpático Maguila.
        Por outro lado, já naquela longínqua era, uma das armas de que os cavalheiros lançavam mão, na conquista de seu lugar ao sol, ou à sombra das bananeiras, era a esperteza, daí que também uma das qualidades apuradas pela evolução, no correr dos milênios, foi a negaça, o vai-que-depois-eu-vou, enfim a manha, que resultou na atilada raça dos políticos de todos os tempos e países, não só do Brasil e de agora, como pensam alguns pessimistas patrícios. Também não devemos nos esquecer dos ponderados e sábios feiticeiros, ancestrais dos clérigos, filósofos e cientistas de nossos dias. Naturalmente aqueles sisudos cavalheiros não gastavam suas energias correndo atrás das moçoilas, com a boa intenção de perpetuar seus genes, mas atraíam-nas com histórias bonitas e conselhos batutas, para, enfim, no correr da conversa, assim como quem não quer nada, sugerir um romântico passeio pelos bosques.  
          Mas o que eu queria dizer, mesmo, com essa introdução antropológica das arábias, é que o gênero humano vai sempre em frente, como que querendo descobrir o que há por trás das montanhas aonde se põe o sol. Assim é que, no correr dos séculos, o homem foi inventando mil maneiras de conquistar as mulheres (e vice-versa, que elas não dormem no ponto) sem precisar se esfalfar numa corrida desesperada pelo matagal, cheio de cobras e lagartos. Muitos artifícios surgiram, desde então, difíceis até de numerar. Pois até dizem que os tambores africanos (são os mais famosos, mas tambores há por toda parte) foram o resultado evolucionista do hábito dos moçoilos escurinhos daquelas plagas de imitarem com eles suas batidas cardíacas, expressão de seu desejo em flor, com a finalidade de conquistar o direito a uma cheirada no cangote das cabrochas. Do tambor se passou à viola, desta ao piano e, enfim, quando os homens chegaram às orquestras, a mulherada já estava bem pertinho, ao alcance das mãos (modo de dizer), atraída pelos acordes das sinfonias de Mozart e companhia ilimitada.
           Mas, então, quando se pensava que a evolução da inventividade masculina (e feminina) na corrida atrás da cara metade tinha chegado ao seu ápice, eis que inventaram o computador, com suas variações de todos os tamanhos e formatos. À parte os conchavos diretos, no Skype, que põe os interlocutores cara-a-cara (literalmente), o que, até certo ponto liquida com o fingimento das palavras das ligações telefônicas, vencidas pelas expressões faciais e corporais, muito mais sinceras, o Facebook persegue os cidadãos e as cidadãs, onde quer que estejam, com uma rapidez que nossos pais, para não lembrar nossos avós, e muitos menos nossos ancestrais “enamorados mateiros” jamais imaginariam.
           Pois, agora, para desespero dos pais menos atualizados nos costumes e nas técnicas computacionais, e dos namorados inseguros e desconfiados, o Facebook inovou com um aplicativo, que vai tornar a “caçada” pelo parceiro (avulso ou alheio) uma moleza: o “Bang with Frieds”. Não vou chegar aos detalhes da coisa, primeiro porque, nesta era de facilidades, o leitor talvez já esteja careca de saber, ou, em caso contrário, porque posso ser acusado de instigador de maus costumes, por algum moralista extraviado neste mundo de licenciosidades ilimitadas. De qualquer maneira, para aqueles que lamentam o fim do romantismo “não-me-toques”, dos violões noturnos, dos bilhetinhos piegas e dos olhares enviesados, chegou a hora de “cair na real”, conformar-se com um mundo que não para de mudar e, assim, tomar um rumo definido na vida: partir para a gandaia ou internar-se num convento. 

     

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