quinta-feira, 25 de abril de 2013

CONVITE AO LEITOR, PARA O PRÓXIMO CARNAVAL DE IGUAPE



                                 É O BOI
O melhor momento do Carnaval, em Iguape, é o desfile do Boi. Carnaval é descontração, independência, abertura para o improviso e isso é o que se vê no desfile do Boi, a multidão alegre, desordenada, espontânea, descuidada de atitudes, explodindo sua emoção, transformando aquela improvisada escultura de madeira, arame e papel pintado no comandante da baderna sem violência, da liberdade sem excesso, da transgressão inocente.
        O desfile das escolas é muito bonito e o toque das baterias é perfeito, mas há algo de burocrático nessas demonstrações artísticas, uma ordem meio militar, que se reflete na preocupação do alinhamento de seus integrantes e na vigilância de seus organizadores. Mal comparando, o desfile comportado dos clubes está para a multidão convulsionada atrás do Boi, como as estampas cuidadosamente desenhadas dos quadros renascentistas estão para as figurações libertárias da pintura moderna. Naquela prepondera a disciplina, o cuidado, o respeito às regras, a racionalidade; nesta o que vale é a espontaneidade, a criatividade, o improviso, a emoção.
        Vendo o Boi desfilar, acompanhado por aquela multidão delirante, a gente descobre que nem os Dez Mandamentos, nem a Inquisição, nem as dezenas de bulas papais e o transcurso de dois milênios do monoteísmo foram capazes de extirpar do homem o gosto pagão pelo ídolo totêmico, essa profunda e quase genética ligação do homem com os bichos, uma espécie de antecipação intuitiva da descoberta darwinista, do nosso parentesco com todo o reino animal. O Boi de Iguape desbancou até o Rei Momo, o deus da sátira, importação européia, resquício da cultura helênica.         
Enfim, assim como a subida ao Corcovado justifica a visita ao Rio de Janeiro, uma chegada ao Mercado de “Ver o Peso” compensa a longa viagem até Belém do Pará, e o conjunto arquitetônico do Pelourinho faz esquecer o calor de Salvador da Bahia, vale a pena agüentar a espera, o cansaço e o barulho ensurdecedor da praça, até alta madrugada, para ver o desfile do Boi, que é quase sempre o último no cronograma da festa, mas é certamente o primeiro na preferência dos carnavalescos.  

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