Na passagem dos anos 30 para 40,
a Rússia já estava experimentando uma nova Constituição, que iria consolidar o
regime comunista, sob Stalin, depois de um morticínio e uma sangrenta
perseguição aos dissidentes. Na Alemanha, Hitler, já senhor da Alemanha,
invadia a França, depois de haver invadido a Polônia, enquanto outros ditadores
tomavam conta da Europa ocidental, com Mussolini na Itália, Franco na Espanha e
Salazar em Portugal. No Brasil, Getúlio Vargas fingia que era o pai dos pobres,
enquanto ajudava os ricos a ganharem dinheiro. Enfim, para não ficar atrás, o
Oceano Pacífico começava a ferver, com a expansão sangrenta do Império Japonês.
Enquanto isso, o Vale do Ribeira,
depois de fazer os descendentes de japoneses saírem do litoral, para evitar uma
hipotética comunicação deles com os submarinos alemães, permanecia tranquilo.
Em Iguape, o Clube 25 de Janeiro reunia a elite da cidade, o Clube Liberdade fazia
bailes com a classe média e o Primavera, embora teoricamente estivesse
reservado ao proletariado, misturava todos os segmentos sociais, considerando,
ainda, que entre seus fundadores, havia famílias de boa projeção social, na
cidade. Em todos os clubes havia brigas, com variação de formato: no Clube 25
de Janeiro, preponderava o bate-boca; no Liberdade, sopapos organizados, nos
fundos do prédio; no Primavera, xingações, pegas, porradas e sobe-desce na
escadaria, com, pelo menos um caso, de salto pela janela – o clube ficava num
sobrado.
Os bailes só ocorriam nos fins de
semana. Nos dias de semana, a pequena e a grande burguesia passeavam ao redor do
jardim da cidade, no Largo da Matriz, que nunca mais, nos anos posteriores,
esteve tão bem arranjado. Seu Gamba, o guardião das flores, manejava um galho
de árvore, sem folhas, com o qual castigava os moleques que pisavam nos
canteiros. As moças e moços se cruzavam no passeio, com longos olhares e
secretos sorrisos. Os pais de família jogavam bilhar ou conversavam em alguns
bares, as mães colocavam cadeiras na porta de casa e reuniam grupos de prosa,
que se esticava até as vinte e duas da noite, hora de recolher para todos, do
jardim, dos bares e das calçadas, porque a luz apagava às onze da noite.
Nos fins de semana, a partir de
certa época, começou a haver sessões de cinema. Parece que, em tempos idos, já
existiam cinemas, em Iguape, que fecharam, por alguma razão. Também havia
teatro, com peças nas quais trabalhavam pessoas do mesmo clã, porque dramas ou
comédias, as peças, geralmente de teor sentimental, sempre continham alguma
cena de leves carícias, e isso criava constrangimento para os artistas
amadores, e suas famílias. Às vezes, em vez de peças, havia declamação de poesias.
Ficaram na memória alguns trechos poéticos: “Coitadinha da galinha, vai morrer,
hoje, talvez!” e “Num galho seco vi pousar um passarinho / E aos seus filhinhos
ouvi cantar uma canção/”.. ... e por aí vai.
Enfim, o mundo se estraçalhava, lá
fora, mas cá, vivíamos num pedaço do Paraíso!
Nenhum comentário:
Postar um comentário