A atual campanha contra o
parlamentar homofóbico, preconceituoso, além de “cara de pau”, que ganhou a
presidência de uma comissão parlamentar exatamente contrária a seus princípios,
levanta pertinentes problemas, com relação à vida pública, seja daquela dos
representantes do povo, seja daquela do próprio povo. Afinal, até que ponto
devemos nos resguardar em nossas posições, políticas, religiosas ou morais,
contra as tentações ou simples convites que nos vem “do outro lado”? Ou será
que devemos tratar esses protestos e indignações com o mesmo espírito com que
encaramos as disputas pelas cores e camisas de times futebolísticos?
As mudanças no campo político, no
Brasil e, acredito, em muitos outros países (e eu não saberia dizer se em
“todos os países” ou só nos países de mentalidade um pouco defasada, como o
Brasil) são mais toleradas do que a mudança na torcida de times de futebol. A
gente pode atribuir isso à pouca consistência das convicções ideológicas ou à
pura sem-vergonhice. Depende do caso. Mas é notável encontrar na história política
da Rússia, por exemplo, a diferença que fazia, em certa época, ser bolchevique
ou menchevique. As duas correntes eram revolucionárias, as duas correntes
lutaram contra o regime monárquico e os costumes feudais da Rússia tzarista,
mas brigavam entre si como gato e cachorro, por questões menores na interpretação
da história política e econômica. No Brasil, convivem, lado a lado, como irmãos
fraternos, sem o menor problema, mesmo ideológico, partidários de partidos
comunistas e de partidos capitalistas, além daquela maioria que fica “em cima
do muro”, quando se trata de convicções.
Mas isso é parte menor do
problema. O pior é a mudança de lado, à menor suspeita de que, quanto a uma
questão qualquer, o lado em que se está parece destinado a “perder a parada”,
ou quando interesses maiores conseguem “comprar” consciências. Aqui é que,
realmente, existe o problema. E quando falamos em interesses, pensamos em
interesses que compram consciências, ou consciências que já estão motivadas por
situações pessoais. Um homoerótico lutar pela sua causa não é nenhuma demonstração
de cidadania, mas de defesa própria. Da mesma forma, um afrodescendente.
Pode-se argumentar, e com toda razão, que essa luta é por “princípios humanos,
reconhecidamente universais”, mas acho que poucos dos reivindicadores têm isso
em mente, quando “tocam seus tambores” na praça.
(VOLTAREMOS AO ASSUNTO)
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