Já houve um tempo em que era
desvantagem ser índio, na América, deste o Alasca à Patagônia. Atualmente, pelo
contrário, é um privilégio vestir saiotes de palha e usar chapéu de penas de
pássaros. Os índios americanos quase foram dizimados, no início da invasão
britânica, mas os sobreviventes foram salvos pela santificação dos direitos
humanos, vigente a partir de fins do século XIX. No Brasil, houve uma
intervenção favorável aos indígenas, com a vinda dos padres jesuítas, em 1549.
Só que estes “salvavam” os índios a seu modo: pondo-os a trabalhar, enquanto
faziam uma intervenção com as forças do Além, para cuidar de suas almas.
Mas, como disse acima, atualmente
ser índio dá um salvo conduto infalível perante a Lei. Vá um branquelo arrancar
uns pés de palmito para faturar uns caraminguás: caem-lhe em cima os homens da
Lei, como se não tivessem mais nada para fazer, num mundo onde as drogas cruzam
as estradas, em busca dos idiotas da cidade, e os pacíficos habitantes das beiras
de estrada aguardam um desastre de caminhão lotado, para “defender” umas caixas
de cerveja. Os índios, por sua vez, estão isentos de pecado, quando cortam os pés
de palmito, e mais, quando os levam para vender nas feiras dos branquelos.
São tantas as vantagens
concedidas aos nossos irmãos de tanga, que alguns brancos espertinhos
resolveram passar por eles, para ver se conseguem os mesmos privilégios. Leio
nos jornais: “Delinquentes fantasiados de índios invadiram o Hotel Fazenda da
Lagoa, afirmando que eram donos da área de 650 hectares da propriedade, em Una,
na Bahia”. Na foto, não dá para ver o que caracteriza aqueles espertinhos como
delinquentes, mas a meu ver, a “fantasia de tupinambás” foi muito mal
confeccionada. Essa foi a “mancada” da esperteza: a má confecção dos trajes, o
que causou uma falha na caracterização do selvagem. Tenho certeza de que os “fora-da-Lei”
mais inteligentes e precavidos já estão procurando estilistas mais hábeis, que
saibam confeccionar fantasias adequadas para os branquelos que desejam usufruir
das mesmas benesses de nossos irmãos índios.
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