segunda-feira, 15 de abril de 2013

PRIVILÉGIOS SELVAGENS


             Já houve um tempo em que era desvantagem ser índio, na América, deste o Alasca à Patagônia. Atualmente, pelo contrário, é um privilégio vestir saiotes de palha e usar chapéu de penas de pássaros. Os índios americanos quase foram dizimados, no início da invasão britânica, mas os sobreviventes foram salvos pela santificação dos direitos humanos, vigente a partir de fins do século XIX. No Brasil, houve uma intervenção favorável aos indígenas, com a vinda dos padres jesuítas, em 1549. Só que estes “salvavam” os índios a seu modo: pondo-os a trabalhar, enquanto faziam uma intervenção com as forças do Além, para cuidar de suas almas.
              Mas, como disse acima, atualmente ser índio dá um salvo conduto infalível perante a Lei. Vá um branquelo arrancar uns pés de palmito para faturar uns caraminguás: caem-lhe em cima os homens da Lei, como se não tivessem mais nada para fazer, num mundo onde as drogas cruzam as estradas, em busca dos idiotas da cidade, e os pacíficos habitantes das beiras de estrada aguardam um desastre de caminhão lotado, para “defender” umas caixas de cerveja. Os índios, por sua vez, estão isentos de pecado, quando cortam os pés de palmito, e mais, quando os levam para vender nas feiras dos branquelos.
                São tantas as vantagens concedidas aos nossos irmãos de tanga, que alguns brancos espertinhos resolveram passar por eles, para ver se conseguem os mesmos privilégios. Leio nos jornais: “Delinquentes fantasiados de índios invadiram o Hotel Fazenda da Lagoa, afirmando que eram donos da área de 650 hectares da propriedade, em Una, na Bahia”. Na foto, não dá para ver o que caracteriza aqueles espertinhos como delinquentes, mas a meu ver, a “fantasia de tupinambás” foi muito mal confeccionada. Essa foi a “mancada” da esperteza: a má confecção dos trajes, o que causou uma falha na caracterização do selvagem. Tenho certeza de que os “fora-da-Lei” mais inteligentes e precavidos já estão procurando estilistas mais hábeis, que saibam confeccionar fantasias adequadas para os branquelos que desejam usufruir das mesmas benesses de nossos irmãos índios. 

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