Mazelas da
democracia. (Abril de 2013)
Democratas convictos submetem as
instituições à crítica implacável. A construção da democracia é um processo
histórico sem final feliz. As dificuldades e as esperanças se renovam todos os
dias, como tudo na vida. A democracia é resultado da árdua construção da
sociedade. Boto fé na vida democrática, apesar dos ruinosos defeitos de nossas
instituições, pois democratas não vivem apenas de convicções, lutam para construir
o futuro sem travas às esperanças...
Curtamos algumas mazelas de
nossas instituições políticas...
Imensa chaga advém da forma como
se distribuem as entidades em nossa República. Desde 1891, aspiramos o
equilíbrio entre os poderes da União, dos Estados e dos Municípios. A ditadura
de Vargas de 1930 e o golpe militar de 1964 centralizaram o poder. O país
respirou aromas mais suaves no florescente intervalo de vida democrática entre
a Constituição de 1946 e o Golpe de 1964. Derrubada a Ditadura, a Constituição
de 1988 trouxe novamente a esperança de liberdade agora somada à consolidação
dos direitos sociais. Sonho democrático inspirado no estado de bem estar social
da social da democracia européia. Todo brasileiro virou social democrata. Sempre
bom imitar boas experiências históricas.
Boa pontaria dos constituintes,
mas o tiro saiu enviesado, ocorreu a hipertrofia do poder da União.
Concentração imensa de poder decorrente agora da gestão dos tributos e
contribuições. O governo central concentrou a riqueza em suas mãos. Açambarca
hoje cerca 57% da tributação, os Estados não chegam a ganhar 25% do bolo
tributário e os municípios sofrem com 18% da arrecadação. Hipertrofia do poder
central com absoluta conivência e descaso do legislativo. Nem mesmo a partilha
do Fundo de Participação dos Estados consegue ser votado pelo Congresso. A União
exibe exuberante sua força, enquanto Estados e Municípios emagrecem a olhos
vistos.
Resultado: República Imperial,
como lembra bem Gaudêncio Torquato, com a designação fictícia de República Federativa
do Brasil. Conseqüência decorrente: desequilíbrio entre os poderes da
República: Executivo, Legislativo e Judiciário passam a viver tensões permanentes.
Nosso sistema representativo
perpetua o aleijão institucional. A legislação da ditadura inventou o limite de
70 deputados por Estado e pespegou sobre o país o mínimo de 8 deputados por
unidades da federação. Distorção brutal da representação na Câmara dos
Deputados. Virou fumaça a legenda de um eleitor, um voto. Em São Paulo, 70
deputados representam 40 milhões de eleitores. Em Roraima, 8 deputados
representam menos de 300 mil eleitores. Os constituintes de 1988 não tiveram
peito de corrigir tamanha aberração. A manutenção do suplente de Senador
acrescenta uma profusão de parlamentares sem representação por todo o Congresso
Nacional.
Soma-se a tudo isto a realidade
estapafúrdia do nosso sistema partidário que assombra o mundo. Liberou geral! Regras
frouxas na organização partidária! Proliferam 30 partidos políticos. Novos são
inventados por todos os cantos do país: modelo “casa da mãe Joana”. O Supremo
meteu sua colher no guisado em 2006, quando vetou a cláusula de barreira votada
pelo Congresso, que punha limites eleitorais à organização de partidos.
Corresponsável pela fragmentação partidária.
Partidos políticos, hoje,
ambicionam os recursos do fundo partidário e vendem, em época das eleições, o
direito aos horários chamados gratuitos que adquirem nos meios de comunicação.
Bom lembrar que os recursos do Fundo Partidário, R$294 milhões em 2013, e o
custo do horário eleitoral, R$ 600 milhões na última eleição, são pagos pelo
nosso rico dinheirinho.
Com as coligações partidárias nas
eleições proporcionais, o legislativo acaba atulhado de representantes de
pequenos partidos. A fragmentação partidária explode como fogos de artifício no
firmamento da vida democrática. Uma afronta escarrada à vida política nacional.
Mas, mais grave de tudo, destas
mazelas decorrem as dificuldades de formação de maiorias nos legislativos.
Inventaram governos de coalizão. Embuste democrático. Membros do poder legislativo
extrapolam suas competências legislativas. Procuram valorizar seus votos de
maneira espúria: morder o erário público, exigir privilégios e cargos onde
pendurar seus cabos eleitorais. Mau exemplo no plano federal. As mesmas práticas
vão sendo reproduzidas nos estados e nos municípios esvaziados de seus poderes
federativos.
E ninguém mais fala mais em
reformas políticas sérias e inovadoras...
Ulysses Telles Guariba Netto. Professor
aposentado da USP
Caro Prof. Benedito Machado,
ResponderExcluirSaudações.
Voce tem o endereço eletronico do prof. Guariba.
Creio que conheço sua familia e gostaria de entrar em contato,
aguardo.
Obrigado,
Roberto J. Pugliese
pugliese@pugliesegomes.com.br