“Imagem das águas”-
Editora Hucitec – é uma “antologia (que) trata das águas, rios e mares enquanto
locus de práticas sociais e simbólicas de comunidades de pescadores que dele
tiram sua subsistência”. Antônio Carlos Diegues, ilustre iguapense, organizador
da coletânea de ensaios, é professor do Departamento de Economia e Sociologia
Rural da Esalq, professor do Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental da
USP e Diretor Científico do Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas
e Áreas Úmidas Brasileiras (NUPAUB-USP). Teremos oportunidade de comentar, em
outras ocasiões, todos os ensaios reunidos nesse livro, mas no momento vamos
nos restringir ao “Os ex-votos marítimos da Sala de Milagres da Basílica do
Senhor Bom Jesus de Iguape – São Paulo”, de autoria do próprio organizador da
antologia, Prof. Diegues.
Já houve tempo em que a
“Sala de Milagres” era um ponto de convergência de todos os visitantes de
Iguape, e mesmo dos próprios iguapenses, fascinados por essa manifestação de fé
daqueles que se julgavam salvos, ajudados ou amparados pelo Bom Jesus de
Iguape. Mas, conforme observa o próprio autor, as práticas e percepções
místicas do Catolicismo da atualidade, orientadas segundo novas diretrizes do
Concílio do Vaticano, não condizem mais com a religiosidade ingênua de uma
população que vai sendo substituída, pouco a pouco, pela racionalidade urbana
dos novos tempos.
No seu ensaio, o professor
Diegues discorre, principalmente, sobre os ex-votos marítimos, fazendo uma
ligação de sua prática com o “significado do relacionamento mítico entre o ser
humano e a água”. “As águas estão no centro de uma das mais ricas e complexas
simbologias criadas pelo homem”, afirma Diegues, fazendo-nos relembrar, como
apoio, textos da Bíblia e da Teogonia de Hesíodo. Vale lembrar, aqui, que a
segunda frase do Gênesis (Bíblia Sagrada) já nos traz a imagem do mar: “A terra
estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso
soprava sobre as águas”.
Com respaldo no ensaio do
professor Diegues, lembramos que o próprio descobrimento do Brasil foi uma
vitória dos navegadores lusitanos sobre o obstáculo dos mares, num tempo em que
a navegação era uma aposta contínua da vida contra a morte. Camões, que por
pouco não foi mais uma vítima de naufrágio, relata na primeira estrofe de “Os
Lusíadas” que a expansão do “Novo Reino” se deu pelo esforço “Mais do que
prometia a força humana”, depois de vencer os “mares nunca de antes navegados”.
Enfim, a antologia “A imagem das águas”
é uma leitura imprescindível para quem deseja aprofundar seu entendimento sobre
a ampla e complexa relação entre o homem e a porção líquida de nosso
planeta.

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