sexta-feira, 3 de maio de 2013

A IMAGEM DAS ÁGUAS





“Imagem das águas”- Editora Hucitec – é uma “antologia (que) trata das águas, rios e mares enquanto locus de práticas sociais e simbólicas de comunidades de pescadores que dele tiram sua subsistência”. Antônio Carlos Diegues, ilustre iguapense, organizador da coletânea de ensaios, é professor do Departamento de Economia e Sociologia Rural da Esalq, professor do Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental da USP e Diretor Científico do Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras (NUPAUB-USP). Teremos oportunidade de comentar, em outras ocasiões, todos os ensaios reunidos nesse livro, mas no momento vamos nos restringir ao “Os ex-votos marítimos da Sala de Milagres da Basílica do Senhor Bom Jesus de Iguape – São Paulo”, de autoria do próprio organizador da antologia, Prof. Diegues.
Já houve tempo em que a “Sala de Milagres” era um ponto de convergência de todos os visitantes de Iguape, e mesmo dos próprios iguapenses, fascinados por essa manifestação de fé daqueles que se julgavam salvos, ajudados ou amparados pelo Bom Jesus de Iguape. Mas, conforme observa o próprio autor, as práticas e percepções místicas do Catolicismo da atualidade, orientadas segundo novas diretrizes do Concílio do Vaticano, não condizem mais com a religiosidade ingênua de uma população que vai sendo substituída, pouco a pouco, pela racionalidade urbana dos novos tempos.
No seu ensaio, o professor Diegues discorre, principalmente, sobre os ex-votos marítimos, fazendo uma ligação de sua prática com o “significado do relacionamento mítico entre o ser humano e a água”. “As águas estão no centro de uma das mais ricas e complexas simbologias criadas pelo homem”, afirma Diegues, fazendo-nos relembrar, como apoio, textos da Bíblia e da Teogonia de Hesíodo. Vale lembrar, aqui, que a segunda frase do Gênesis (Bíblia Sagrada) já nos traz a imagem do mar: “A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas”.
Com respaldo no ensaio do professor Diegues, lembramos que o próprio descobrimento do Brasil foi uma vitória dos navegadores lusitanos sobre o obstáculo dos mares, num tempo em que a navegação era uma aposta contínua da vida contra a morte. Camões, que por pouco não foi mais uma vítima de naufrágio, relata na primeira estrofe de “Os Lusíadas” que a expansão do “Novo Reino” se deu pelo esforço “Mais do que prometia a força humana”, depois de vencer os “mares nunca de antes navegados”.  Enfim, a antologia “A imagem das águas” é uma leitura imprescindível para quem deseja aprofundar seu entendimento sobre a ampla e complexa relação entre o homem e a porção líquida de nosso planeta.    

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