Boa
Companhia apresenta ‘Cartas do Paraíso’, inspirado em relatos de jesuítas e
viajantes sobre a Terra Nova, e compartilha, com oficina, procedimentos
utilizados na criação da obra
Mais de 400 anos depois que
os jesuítas aportaram no litoral brasileiro, a Boa Companhia, de Campinas,
viaja a antigas “capitanias” com espetáculo inspirado nos relatos dos viajantes
que empreenderam a primeira aventura globalizante da humanidade. Nos dias 24,
25 e 26 de maio, Cananéia recebe o espetáculo Cartas do Paraíso, e a oficina
Um corpo em estado de viagem, que compartilha os procedimentos utilizados
na criação da obra.
Serão realizadas três
apresentações: nos dias 24 e 25, às 20 horas, no Centro Comunitário de
Cananéia, e no dia 26, às 16 horas, na Aldeia Indígena do Acaraú. Também nos
dias 24 e 25, no Centro Comunitário, será realizada a oficina, aberta ao
público e direcionada aos interessados em artes cênicas, das 10h às 13h e das
14h às 18h.
Os eventos, com entrada
gratuita, fazem parte de um projeto que se iniciou em São Sebastião e que vai
percorrer, além desses dois primeiros municípios, também Santos e
Caraguatatuba, a partir de recursos providos pela Secretaria de Estado da
Cultura, por meio do Programa de Ação Cultural (ProAC), que contemplou a Boa
Companhia, devido à excelência artística do projeto e ao histórico do grupo.
Sob a direção artística de
Verônica Fabrini, a Boa Companhia atua há 21 anos desenvolvendo pesquisas de
linguagem que lhe garantem um lugar de destaque na cena contemporânea. A
encenação do espetáculo Cartas do Paraíso, emblema dessa pesquisa, foi
concebida a partir do trabalho do ator, nutrindo-se de elementos de outras
artes cênicas, como a dança, música, performance e mídias audiovisuais, tendo,
no elenco, Alexandre Caetano, Eduardo Osorio e Moacir Ferraz, integrantes do
grupo desde a fundação, e Gustavo Valesi, ator convidado.
O espetáculo
A dramaturgia tem como
principal fonte de inspiração cartas escritas por jesuítas, exploradores e
viajantes, nos primeiros tempos desta Terra de Santa Cruz, Pindorama ou mítica
Hi-Brasil. A radical diferença entre as duas visões de mundo foi o ponto de
partida para a criação de uma poética luso-tropicalista, pautada na mestiçagem,
no encontro e no confronto de imaginários tão ricos: o do Portugal
renascentista e mercantilista e a cultura
indígena brasileira, sendo ela mesma extremamente múltipla.
Nas primeiras cartas de
jesuítas e viajantes, a terra nova é comparável a um paraíso na Terra (quiçá o
próprio paraíso), o que, no imaginário cristão, evoca tensões. Por um lado, a
ideia de um além, de um depois do fim e antes do princípio, lugar mítico na
terra governado por Deus e pelo bem, território sagrado de concretização da
experiência material/transcendental da vida. Por outro lado, a imagem de
paraíso carrega tanto a ideia de redenção, paz e equilíbrio, quanto a ideia do
pecado, da queda representada nas figuras de Eva, a serpente e o fruto do
conhecimento. Poderia “paraíso” ter para nós um significado atual? Qual seria o
nosso fruto proibido?
Apoiada em pesquisas
bibliográficas, iconográficas e sonoras, a encenação busca orquestrar essas
informações, sem, no entanto, pretender uma reconstrução histórica. O
espetáculo acompanha as metamorfoses da ideia de Paraíso, projetada pelo imaginário
europeu na terra de Pindorama (Terra de Santa Cruz), e busca a reverberação
disso na construção de uma singularidade brasileira, acelerando a passagem do
tempo, atravessando o movimento modernista (bradando tupi or not tupi!), o
tropicalismo (Aqui é o Fim do Mundo, de Torquato Neto), até desembocar na
complexidade atual da crise ambiental, da crise ética, neste cenário
pré-apocalíptico de um mundo globalizado e bárbaro.
A oficina
Ministrada por Verônica
Fabrini, diretora do espetáculo e da companhia, e por Eduardo Osório, que
integra o elenco, a oficina Um corpo em estado de viagem será realizada nos
dias 24 e 25 de maio, no Centro Comunitário de Cananéia. O intuito é
compartilhar, com atores e interessados nas artes da cena, alguns procedimentos
utilizados na montagem do espetáculo Cartas do Paraíso.
A partir do trabalho
corporal e musical, a oficina explora, com os participantes, os fluxos entre
personagem, figura cênica e “estados” inspirados pela ideia de viagem, dessa
estranha suspensão que ocorre nos trânsitos, quando abandonamos um passado, mas
ainda não habitamos um futuro. Essa sensação de estar no limite é o mote para
dar corpo a alguns trechos escritos pelos primeiros viajantes de Pindorama –
Vera Cruz.
Serviço:
Espetáculo Cartas do Paraíso
Dias:
24 e 25 de maio – 20 horas – Centro Comunitário de Cananéia (Paulo Porfírio
Paiva, s/n)
26
de maio – 16 horas – Aldeia Indígena do Acaraú
Entrada gratuita
Oficina:
Um corpo em estado de viagem
Dias: 24 e 25 de maio - Horário: das 10h às 13h e das
14h às 18h
Local: Centro Comunitário de Cananéia
Inscrição gratuita - Mais informações:
Departamento Municipal de Cultura – (13) 3851-1930
Boa Companhia – (19) 3288-0267 -producao@boacompanhia.art.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário