Uma circunstância pouco
lembrada ou, talvez, pudicamente ocultada, das cidades pequenas e sem recursos,
como as nossas, do Vale do Ribeira, é a confusão que se faz entre busca de
emprego e desejo de colaboração. “Por que você quer ser vereador, se já tem
emprego?” – foi uma patética pergunta que alguém fez a um candidato, na eleição
que passou. Espírito público, insatisfação cívica, ideologia, são conceitos de
raro trânsito, no pensamento (e aqui precisamos ser absolutamente francos em
dizer) mesquinho, de muitos cidadãos de pequenas cidades.
Por que “só” de pequenas
cidades? Em primeiro lugar, porque nelas quase todos se conhecem e, se não se
conhecem, podem rapidamente, pedindo informação, se conhecerem. Em grandes
centros, de modo geral, não se sabe muito da vida particular das pessoas. O
homem público só tem sua vida íntima revirada, a partir do momento em que se
lança no mundo político, pelo fuxico dos órgãos de informação. Em cidades
pequenas há uma corrente de fofocas, da vida pública e privada, que corre célere
pelos bares, praças e esquinas.
Mesmo à
parte dos cargos eletivos, um cidadão prestativo que se oferece para dar uma
colaboração em qualquer atividade de interesse público é imediatamente posto em
suspeita, como se quisesse tirar o emprego do funcionário encarregado. Eu disse
acima que essa “circunstância (é) pouco lembrada”, porque o cidadão que passa
por esse vexame de rejeição demora muito em entender a situação, e sua
perplexidade acaba por se transformar em pudor pela exposição a uma suspeita
infundada.
É
interessante que até nas atividades ligadas à religião existe essa disputa pelo
cargo ou função, naturalmente por outras razões, que não financeiras, talvez
questões de prestígio, ou simples rixas particulares. Lembro que, há tempos,
uma conhecida me narrou um episódio de disputa em torno das comemorações
ligadas ao culto da “Bandeira do Espírito Santo”. Já soube de encrencas no coral
da Basílica, no serviço auxiliar da missa e, até, na hora de carregar o andor,
nas procissões.
Bem, não
custa nada lembrar que essa atitude de desconfiança, com relação à oferta de colaboração,
do “estranho”, é um dos fatores do atraso nos costumes, nas instituições, no
modo de vida e na própria situação econômica das pequenas cidades. Parece
exagero essa afirmação, mas o progresso é resultado de ideias, inovações e
iniciativas que, de modo geral, estão ausentes na rotina predominante no universo
burocrático.
Nenhum comentário:
Postar um comentário