segunda-feira, 27 de maio de 2013

DESEMPREGO, COLABORAÇÃO E CIDADANIA


Uma circunstância pouco lembrada ou, talvez, pudicamente ocultada, das cidades pequenas e sem recursos, como as nossas, do Vale do Ribeira, é a confusão que se faz entre busca de emprego e desejo de colaboração. “Por que você quer ser vereador, se já tem emprego?” – foi uma patética pergunta que alguém fez a um candidato, na eleição que passou. Espírito público, insatisfação cívica, ideologia, são conceitos de raro trânsito, no pensamento (e aqui precisamos ser absolutamente francos em dizer) mesquinho, de muitos cidadãos de pequenas cidades.
Por que “só” de pequenas cidades? Em primeiro lugar, porque nelas quase todos se conhecem e, se não se conhecem, podem rapidamente, pedindo informação, se conhecerem. Em grandes centros, de modo geral, não se sabe muito da vida particular das pessoas. O homem público só tem sua vida íntima revirada, a partir do momento em que se lança no mundo político, pelo fuxico dos órgãos de informação. Em cidades pequenas há uma corrente de fofocas, da vida pública e privada, que corre célere pelos bares, praças e esquinas.   
        Mesmo à parte dos cargos eletivos, um cidadão prestativo que se oferece para dar uma colaboração em qualquer atividade de interesse público é imediatamente posto em suspeita, como se quisesse tirar o emprego do funcionário encarregado. Eu disse acima que essa “circunstância (é) pouco lembrada”, porque o cidadão que passa por esse vexame de rejeição demora muito em entender a situação, e sua perplexidade acaba por se transformar em pudor pela exposição a uma suspeita infundada.
        É interessante que até nas atividades ligadas à religião existe essa disputa pelo cargo ou função, naturalmente por outras razões, que não financeiras, talvez questões de prestígio, ou simples rixas particulares. Lembro que, há tempos, uma conhecida me narrou um episódio de disputa em torno das comemorações ligadas ao culto da “Bandeira do Espírito Santo”. Já soube de encrencas no coral da Basílica, no serviço auxiliar da missa e, até, na hora de carregar o andor, nas procissões.  

        Bem, não custa nada lembrar que essa atitude de desconfiança, com relação à oferta de colaboração, do “estranho”, é um dos fatores do atraso nos costumes, nas instituições, no modo de vida e na própria situação econômica das pequenas cidades. Parece exagero essa afirmação, mas o progresso é resultado de ideias, inovações e iniciativas que, de modo geral, estão ausentes na rotina predominante no universo burocrático.  

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