A revista Piauí, de maio, traz
um interessante depoimento da jornalista argentina, Graciela Mochkofsky, sobre
a crise do jornalismo contemporâneo, com especial enfoque em sua pátria,
Argentina, às voltas com um governo interventor, corrupto e autoritário, apesar
das fumaças democráticas com que se assume. Em resumo, o problema é o seguinte:
na medida em que a imprensa se torna parte do mundo empresarial, ela assume as
feições e funções do mesmo, ora colaborando com ele para participar de suas
benesses, ora o combatendo para adquirir poder e conseguir, com isso, uma forma
de aumentar seus lucros, obrigando os empresários a colaborarem com anúncios
para mantê-la de seu lado.
Esse jogo
de “queima e assopra”, que já não era novidade em outros tempos, parece que está
se tornando uma regra geral, não como antes, ocorrências eventuais como forma
de sobrevivência, por exemplo, no interior de regimes militares repressivos,
mas uma sistemática atitude de cinismo, de manipulação da opinião pública e uma
massacrante pressão sobre os jornalistas honestos, que ainda teimam em publicar
notícias e não bajulações. Enfim, entram nessa panela os donos de jornais,
agora transformados em CEOS (Chief Executive Officer) corporativos, e os “servos”,
jornalistas acuados pela necessidade de trabalhar, mesmo fazendo aquilo que a
sua consciência condena.
Mas essas
coisas só acontecem nos grandes centros, com os importantes jornais e revistas,
enfim, onde o poder é realmente forte, seja sob a forma de cargo político ou
sob o peso de uma corporação empresarial gigante. Nas cidades menores, onde
existem pequenos órgãos impressos, às vezes até revistas, mas na maioria das
vezes pequenos boletins informativos, o que existe entre a imprensa e o mundo
empresarial ou político, é uma troca de pequenos favores, acenos e elogios
furtivos, para evitar boicotes de notícias oficiais, ou anúncios. Isso não deixa
de ter um certo parentesco com os procedimentos maiores, entre a grande
imprensa e os poderes da nação, mas o prejuízo moral que causam é menos
sentido, pois seus efeitos não pesam muito sobre a qualidade das notícias,
geralmente apenas esclarecimentos mais detalhados sobre acontecimentos, providências
administrativas ou desastres variados, dos quais o povo em geral já tem
conhecimento, pela comunicação boca-a-boca, mas que se tornam mais espetaculares
ou pomposos, colocados sob letra de forma, em jornais semanais.
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