sexta-feira, 10 de maio de 2013

ILUSÕES PERDIDAS? 0 DRAMA DA IMPRENSA MODERNA




A revista Piauí, de maio, traz um interessante depoimento da jornalista argentina, Graciela Mochkofsky, sobre a crise do jornalismo contemporâneo, com especial enfoque em sua pátria, Argentina, às voltas com um governo interventor, corrupto e autoritário, apesar das fumaças democráticas com que se assume. Em resumo, o problema é o seguinte: na medida em que a imprensa se torna parte do mundo empresarial, ela assume as feições e funções do mesmo, ora colaborando com ele para participar de suas benesses, ora o combatendo para adquirir poder e conseguir, com isso, uma forma de aumentar seus lucros, obrigando os empresários a colaborarem com anúncios para mantê-la de seu lado.
        Esse jogo de “queima e assopra”, que já não era novidade em outros tempos, parece que está se tornando uma regra geral, não como antes, ocorrências eventuais como forma de sobrevivência, por exemplo, no interior de regimes militares repressivos, mas uma sistemática atitude de cinismo, de manipulação da opinião pública e uma massacrante pressão sobre os jornalistas honestos, que ainda teimam em publicar notícias e não bajulações. Enfim, entram nessa panela os donos de jornais, agora transformados em CEOS (Chief Executive Officer) corporativos, e os “servos”, jornalistas acuados pela necessidade de trabalhar, mesmo fazendo aquilo que a sua consciência condena.
        Mas essas coisas só acontecem nos grandes centros, com os importantes jornais e revistas, enfim, onde o poder é realmente forte, seja sob a forma de cargo político ou sob o peso de uma corporação empresarial gigante. Nas cidades menores, onde existem pequenos órgãos impressos, às vezes até revistas, mas na maioria das vezes pequenos boletins informativos, o que existe entre a imprensa e o mundo empresarial ou político, é uma troca de pequenos favores, acenos e elogios furtivos, para evitar boicotes de notícias oficiais, ou anúncios. Isso não deixa de ter um certo parentesco com os procedimentos maiores, entre a grande imprensa e os poderes da nação, mas o prejuízo moral que causam é menos sentido, pois seus efeitos não pesam muito sobre a qualidade das notícias, geralmente apenas esclarecimentos mais detalhados sobre acontecimentos, providências administrativas ou desastres variados, dos quais o povo em geral já tem conhecimento, pela comunicação boca-a-boca, mas que se tornam mais espetaculares ou pomposos, colocados sob letra de forma, em jornais semanais. 

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