Os super-homens não foram inventados
pelos gibis americanos, nem pelo “Tico-tico” nacional, mas já veem atuando
desde os tempos bíblicos, quando, só para citar um caso mais rumoroso, Moisés
fez o Mar Vermelho recuar suas águas e dar passagem, na maior moleza, aos seus
parceiros judeus. Isso sem falar nos heróis e semideuses gregos, para lá de
valentes, que carregavam o mundo nas costas, como Atlas, ou limpavam
estrebarias nojentas, como Hércules, que, ainda, se deu ao desplante de
promover os “doze trabalhos” sem sequer tomar umas férias entre um e outro.
Mas, como era de se esperar, o Brasil
não podia ficar longe desse campeonato histórico e mitológico de prodígios. E
por que não revelar, mesmo sem o estardalhaço jornalístico e televisivo das
declarações da Presidenta (atenção para o neologismo petista “Presidenta”), que
a cidade de Iguape está incluída, como local privilegiado, nessa grande
odisseia nacional? Pois foi por intermédio de um super-homem nacional, o
misterioso Bacharel, que Iguape se tornou internacionalmente famosa, embora
tendo que incluir numa espécie de glória participativa mais duas cidades, que
não dispensam, de jeito nenhum, a lembrança de seu glorioso batizado pelo mesmo
padrinho: Cananeia e São Vicente.
E foi assim que a História, que não é
de quadrinhos, mas chega bem perto, se deu: num Brasil sem estradas, sem avião,
sem telefone e sem internet, o grande herói Bacharel, como quem planta um
coqueiro no fundo do quintal, sem tugir, nem mugir, fundou três cidades, Cananeia,
Iguape e São Vicente, que hoje se apresentam como as joias do litoral paulista,
disputando, entre si, o título nobiliárquico de “Princesa do Litoral”. Como se
não bastasse o “sangue azul” com que se autoprivilegiaram, todas essas três
cidades disputam a primazia de ser a “primeira” a surgir nos mapas da “Terra
Brasílis”.
Mas isso é pouco, dentre as miríades
de proezas do grande herói desta Terra que, mais tarde, muito mais tarde, daria
o nascimento imaginário a Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, como o
denominou seu criador, querendo, com isso, homenagear certa categoria, ou
muitas categorias de brasileiros que vivem, como se dizia antigamente, “de
expedientes” ou, modernamente, de “viração”. Mas, como eu dizia acima, fundar
três cidades é fichinha para o grande herói Macunaíma, digo Bacharel. No
intervalo da fundação de cidades, ele, pra não passar por egoísta, nem
exclusivista, auxiliava as excursões pelo rico território brasileiro e, ainda,
traficava índios com os piratas visitantes.
Mas, antes de terminar nossa
lembrança dos esforços do super-herói degredado, tornado, por assim dizer,
conterrâneo nosso (além, é claro, dos cananeenses e vicentinos) pelas vicissitudes
históricas, é bom lembrar as condições em que ele exercia seu papel de herói,
num tempo que ainda não tinham inventado as histórias de quadrinhos, nem
internet, etc. Pois ele, simplesmente, dotado pela natureza de uma força
excepcional, com uma só laçada, prendia dezenas de índios e os ia oferecer no
mercado de escravos litorâneo, a quem desse mais.
Agora, a grande dúvida que a
História, tão detalhista em outras circunstâncias, não esclarece: para que os
piratas precisavam de índios, num naviozinho de quarenta côvados (andei
pesquisando na Internet), se estes, índios, não navios ou côvados, ao que se
supõe, não sabiam manejar uma espada, não eram cozinheiros em que se confiasse
e, como seria de esperar de um candidato a pirata, não tinham nem olho de
vidro, nem cara de mau? A resposta, para um brasileiro, naturalmente, é aquela
de um divertido personagem de peça teatral e filme nacional: - “não sei, só sei
que foi assim!” Em todo caso, aí fica a informação: não é de hoje que temos à
disposição aventuras de grandes heróis, talvez nem tão poderosos como o
Super-homem, mas tão espertos e inteligentes como eram o Sombra e o Espírito, heróis
de muito caráter, só conhecidos pelos maiores de sessenta anos.
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