O que faz um nigeriano, um
indiano, um mexicano, um brasileiro, ou outro cidadão qualquer de um país
meio-desenvolvido, quando percebe que seu talento não cabe nos limites das
exigências de sua terra natal? Emigra. Os indianos vão para o Reino Unido, os
nigerianos para a França, os mexicanos e brasileiros vão para os Estados
Unidos. O intelectual, o administrador ou qualquer tipo de profissional talentoso,
se deu azar de nascer num lugar que não o entende e, consequentemente, não o
valoriza, sai de sua terra e vai desenvolver seu talento em outras plagas.
Em escala
menor, em termos geográficos, mas muito maior, em termos numéricos, acontece a
mesma coisa no interior dos países. Um “able guy” texano talvez prefira ir para
Nova York, em vez de ficar amansando cavalos em sua terra, um “muchacho ingenioso”
da Patagônia vai mostrar seu talento em Buenos Aires, um nordestino arretado
vem para São Paulo. “Ninguém consegue ser profeta em sua terra natal”. Podemos
substituir a palavra profeta por hábil, talentoso. Também é preciso considerar
que esse fenômeno é mais comum nas pequenas cidades. Em grandes centros, o
cidadão que ali nasceu pode se tornar um grande homem, porque a dimensão da
cidade faz com que os relacionamentos de cada pessoa se resumam aos seus
vizinhos ou colegas de trabalho. Então, uma grande cidade é composta por
múltiplas comunidades, o que faz com que cada cidadão seja um ilustre
desconhecido para a maioria de seus conterrâneos. Como “estranho”, isto é, não
dependendo de amizades, “indicações” e parentescos, ele tem muito mais
facilidade de desenvolver e aplicar seu talento e suas habilidades.
Por que
será que isso acontece? Há muitas explicações, mas podemos começar pelas
exigências do meio. Uma cidade grande exige das pessoas muito mais esforço pela
própria sobrevivência, o que limita os fracos e faz sobressair os fortes (digo
fortes de talento, não de esperteza: esta também ajuda, mas nem sempre). Por
outro lado, nas cidades pequenas, onde todos se conhecem, com poucas exceções,
as oportunidades são concedidas na base da amizade, do parentesco, e não em
função do talento. Por isso, quem se julga, de certo modo, injustiçado, emigra.
Do que
resulta isso? A resposta pode ser medida pela fácil observação: estagnação das
pequenas cidades e progresso contínuo dos grandes centros urbanos. As
metrópoles podem contar com um contínuo acréscimo de mão-de-obra de boa
qualidade, enquanto as pequenas cidades têm que se contentar com aqueles que
não querem arriscar um grande salto. Está claro que nem sempre é o conformismo
que faz o indivíduo se contentar com o que o nascimento lhe proporcionou.
Também nem sempre é o talentoso que emigra. Não estamos falando de um fenômeno
de modo absoluto, mas apontando um fato que explica em parte a dificuldade com
que lidam as regiões e países subdesenvolvidos, bem como a razão pela qual
melhoram cada vez mais, cidades e países prósperos.
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