terça-feira, 7 de maio de 2013

PROBLEMAS BRASILEIROS



         Certa vez, viajei num ônibus da linha Iguape-São Paulo, com um iguapense que morava nos Estados Unidos. De passagem pelo Brasil, em pouco tempo juntou um repertório de relatos sobre nossos problemas. No entanto, em vez de acentuar sua revolta com esses problemas, ele punha ênfase na indignação que lhe causava a passividade dos brasileiros, que quase não reclamavam das agruras que sofriam, por conta do serviço público, dos maus costumes de uma parte da população, do desleixo geral, enfim. O que ele não percebeu, entretanto, foi que não havia passividade, entre os brasileiros, quanto a reclamações, mas desânimo de reclamar e não ser atendido.
          Só para dar um exemplo, certa vez aconteceu um incêndio num posto de gasolina, próximo a um prédio da minha família. O incêndio foi acidental, mas o posto não tinha extintor de incêndio, o que revelava um desleixo perigoso. Virei os quatro cantos da cidade, para fazer a denúncia, pois o dono do posto, nem depois da quase tragédia se dispôs a sanar sua deficiência. Prefeitura, Sanitária (não lembro o nome completo) Cetesb, ou coisa parecida, e mais um ou dois serviços públicos que me indicaram como os responsáveis pelo caso. Cada um desses serviços públicos, longe de me atenderem, me indicavam outro serviço como responsável pelo caso. Depois de idas e vindas, desisti e fui me desentender, pessoalmente, com o dono do posto de gasolina.
        Como disse, foi apenas para dar um exemplo. Barulho nas ruas, depois das 22 horas, buracos nas calçadas, que já derrubaram, perigosamente, mais de um idoso, etc. entre outros problemas, tudo fica na mesma, sob nossa indignação, mas, ao contrário do que pensava nosso conterrâneo, que vivia num país civilizado, não era por falta de reclamações do povo, mas por indiferença e desleixo das autoridades responsáveis. E não se diga que esse é um problema local, pois é um problema nacional. Em geral, os funcionários e as próprias autoridades, em vez de receberem as reclamações como uma colaboração do cidadão, pois a ideia é sanar problemas que atingem a todos, e que talvez lhes tenha passado despercebido, encaram-nas como uma crítica ao seu trabalho, como uma ofensa à sua autoridade. 

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