Certa vez,
viajei num ônibus da linha Iguape-São Paulo, com um iguapense que morava nos
Estados Unidos. De passagem pelo Brasil, em pouco tempo juntou um repertório de
relatos sobre nossos problemas. No entanto, em vez de acentuar sua revolta com
esses problemas, ele punha ênfase na indignação que lhe causava a passividade
dos brasileiros, que quase não reclamavam das agruras que sofriam, por conta do
serviço público, dos maus costumes de uma parte da população, do desleixo geral,
enfim. O que ele não percebeu, entretanto, foi que não havia passividade, entre
os brasileiros, quanto a reclamações, mas desânimo de reclamar e não ser
atendido.
Só para
dar um exemplo, certa vez aconteceu um incêndio num posto de gasolina, próximo
a um prédio da minha família. O incêndio foi acidental, mas o posto não tinha
extintor de incêndio, o que revelava um desleixo perigoso. Virei os quatro
cantos da cidade, para fazer a denúncia, pois o dono do posto, nem depois da
quase tragédia se dispôs a sanar sua deficiência. Prefeitura, Sanitária (não
lembro o nome completo) Cetesb, ou coisa parecida, e mais um ou dois serviços públicos
que me indicaram como os responsáveis pelo caso. Cada um desses serviços públicos,
longe de me atenderem, me indicavam outro serviço como responsável pelo caso. Depois
de idas e vindas, desisti e fui me desentender, pessoalmente, com o dono do posto
de gasolina.
Como
disse, foi apenas para dar um exemplo. Barulho nas ruas, depois das 22 horas,
buracos nas calçadas, que já derrubaram, perigosamente, mais de um idoso, etc. entre
outros problemas, tudo fica na mesma, sob nossa indignação, mas, ao contrário
do que pensava nosso conterrâneo, que vivia num país civilizado, não era por
falta de reclamações do povo, mas por indiferença e desleixo das autoridades
responsáveis. E não se diga que esse é um problema local, pois é um problema
nacional. Em geral, os funcionários e as próprias autoridades, em vez de
receberem as reclamações como uma colaboração do cidadão, pois a ideia é sanar
problemas que atingem a todos, e que talvez lhes tenha passado despercebido,
encaram-nas como uma crítica ao seu trabalho, como uma ofensa à sua autoridade.
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